sábado, 19 de junho de 2010

O Neijing ou Tratado Interno

O Neijing , ou Tratado Interno, é um dos primeiros textos de medicina de todo o mundo. Nele aparecem as primeiras indicações sobre a acupuntura, o funcionamento cosmológico do corpo, a natureza das energias, etc. A tradição chinesa costuma informar que autoria do livro pertence ao mítico imperador Amarelo (Huangdi), mas o texto atualmente conhecido data da época Han. Sabe-se que era um costume da época atribuir a autoria de textos importantes à figuras históricas igualmente famosas; porém, os conteúdos tratados no livro são, com certeza, bem mais antigos do que a confecção do próprio tratado, como indicam vestígios arqueológicos da época Zhou.

Extratos do Neijing

Tratado sobre a Verdade Natural nos Tempos Antigos

O Imperador Amarelo foi dotado de talentos divinos, nos tempos antigos em que nasceu: na primeira infância já sabia falar, muito jovem ainda era rápido de entendimento e sagacidade, em adulto foi sincero e compreensivo e quando atingiu a perfeição ascendeu ao Céu.

Uma vez, o Imperador Amarelo dirigiu-se a T’ien Shih, o mestre divinamente inspirado, nos seguintes termos:

- Ouvi dizer que nos tempos antigos as pessoas viviam mais de um século e mesmo assim permaneciam ativas e não se tornavam decrépitas nas suas atividades. Hoje em dia, porém, as pessoas só vivem metade desses anos e mesmo assim tomam-se decrépitas e débeis. É por que o Mundo muda de geração para geração? Ou será por que a espécie humana negligencia as leis da Natureza?

E Ch’i Po respondeu:

- Antigamente, essas pessoas que compreendiam o Tao [o caminho do autodesenvolvimento] moldavam-se de acordo com o Yin e o Yang [os dois princípios da Natureza] e viviam em harmonia com as artes da adivinhação. Havia temperança no comer e no beber. As suas horas de levantar e recolher eram regulares e não desordenadas e ao acaso. Graças a isso, os antigos conservavam os seus corpos unidos às suas almas, a fim de cumprirem por completo o período de vida que lhes estava destinado, contando cem anos antes do passamento. Hoje em dia, as pessoas não são assim; utilizam o vinho como bebida e adotam a temeridade e a negligência como comportamento habitual. Entram na câmara do amor em estado de embriaguez; as paixões exaurem-lhes as forças vitais; o ardor dos desejos malbarata-lhes a verdadeira essência; não são hábeis na regulação da sua vitalidade. Devotam toda a atenção ao divertimento dos seus espíritos, desviando-se assim das alegrias da longa vida. Levantam-se e deitam-se sem regularidade. Por tais razões só chegam à metade de cem anos e degeneram.

Na Antigüidade mais remota, os ensinamentos dos sábios eram seguidos pelos que se encontravam abaixo deles. Os sábios diziam que a fraqueza, as influências insalubres e os ventos nocivos deviam ser evitados em ocasiões específicas. Sentiam-se tranqüilamente satisfeitos no nada e a verdadeira força vital acompanhava-os sempre; preservavam dentro de si o vigor vital primitivo. Assim, como podia a doença acometê-los?. Reprimiam a vontade e reduziam os desejos; os seus corações estavam em paz e sem qualquer medo, os seus corpos labutavam e, contudo, não sentiam fadiga. O seu espírito respeitava a harmonia e a obediência, estava tudo de acordo com os seus desejos e conseguiam o que quer que desejassem. Achavam excelente qualquer espécie de comida e qualquer espécie de vestuário os satisfazia. Sentiam-se felizes em todas as circunstâncias. Para eles, não importava que um homem ocupasse na vida uma posição elevada ou inferior. A homens assim se pode chamar puros de coração. Não há desejo capaz de tentar os olhos destas pessoas puras, e a sua mente não pode ser desencaminhada pelos excessos nem pelo mal.

Numa sociedade assim, quer os homens sejam sensatos, quer idiotas; quer virtuosos, quer maus, não têm medo de nada, estão em harmonia com o Tao, o Caminho Certo. Por isso, os antigos viviam mais de um século e permaneciam ativos e sem se tomarem decrépitos, porque a sua virtude era perfeita e nada jamais a punha em perigo.






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