terça-feira, 29 de março de 2011

A consciência


Dra Ercilia Simone D. Magaldi
A idéia de totalidade, de unidade, permeia todo o Cosmos. Como diziam os pitagóricos o Um é o princípio criador e a multiplicidade numérica é a manifestação expressa na criação. É a “hipótese de Deus” que Teilhard relata em relação aos cosmologistas modernos, dentre eles posso citar  DAVIES, que encerra seu livro  da seguinte maneira: “Não posso acreditar que nossa existência neste universo seja uma mera peculiaridade do destino, um acidente da história, um grito incidental no grande teatro cósmico. Nosso envolvimento é íntimo demais. A espécie Homo pode não importar nada, mas a existência da mente em algum organismo em algum planeta do universo é certamente um fato fundamentalmente significativo. Através dos seres conscientes o universo gerou autoconsciência. Isto não pode ser um detalhe banal, um subproduto menor de forças indiferentes e sem objetivo. Nossa existência é intencional”. A autoconsciência permite ao homem um novo-olharcomo propõe Teilhard.
Todos nós vivemos entre a fé e o ceticismo. É a característica dos cientistas ocidentais; a dicotomia entre Ciência e Religião. É nossa herança esquizofrênica.
Teilhard crê que o Homem é a chave de compreensão do universo, é a fecha ascendente da grande síntese biológica. Chegada ao Homem a evolução não pára, mas sofre uma mudança profunda, não caminha mais para o Homem, encarna-se nele, o próprio Homem torna-se evolução. No Cosmos, em tudo, há uma interioridade e uma exterioridade, uma dupla dimensão, uma espécie de psiquismo, uma ordem lógica e matemática, uma espécie de consciência que está presente desde as formas mais simples, diluídas e elementares até o fenômeno humano, o mais concentrado e complexo. A célula torna-se Pessoa.
Esse Homem, ápice da evolução, precisa aprender a ver com qualidade, como nos propõe Teilhard:
Sentido da imensidade espacial na grandeza e na pequenez = micro e macro Cosmos.
Sentido de profundidade ao longo das séries ilimitadas do tempo = perceber que todo o Passado e todo o Futuro convergem para a experiência do Presente.
Sentido do Número,  apreciando a multidão alucinante de materiais ou seres vivos envolvidos na menor transformação do Universo. É a solidariedade universal.
 Sentido de proporçãoÁtomos e Nebulosas.
Sentido da qualidade ou novidade. Constante renovação e complexização.
Sentido do movimento que se oculta sob as maiores lentidões. Ver a extrema agitação dissimulada pelo véu do repouso. Quântica e Cosmologia.
Sentido do orgânico, perceber as ligações físicas e a unidade estrutural por sob a justa posição superficial das sucessões e coletividades.
Esse é um exercício complexo de um novo olharvia de regra o ser humano, ao olhar para o fenômeno da matéria e do próprio homem, desenvolve o medo existencial, ou angústia. É a nossa consciência frente ao ínfimo e ao imenso, ao finito e ao eterno, ao eu e ao universo, ao simples e ao complexo. Quanto a isso “Teilhard quer, pois, evidenciar a angústia ligada à condição humana e provocada por tudo quanto nos ultrapassa quantitativamente em nós e fora de nós: os abismos psíquicos (Universo humano) e cósmicos (Universo material). No fundo, essa angústia a que chega necessariamente o sábio hiperfísico – que ousa ´ver`...- é aquela que, uma vez superada, lhe confere um otimismo realista (não ingênuo) pois aquelas forças desproporcionais à pessoa humana (um Universo em evolução acelerada e a pressão de uma totalização coletiva) e que ameaçavam aniquilá-lo, revelam-se – no conjunto e à medida que avançam no Espaço-Tempo – forças que o consolidam (imortalizando porque irreversíveis, personalizando porque unitivas e espirituais).”
Nada há de mais complexo do que a consciência, como vimos em relação ao arquétipo em Jung, ela também apresenta a mesma característica paradoxal, é psicóide; matéria e espírito.
Descartes, partindo do cogito, ergo sun acrescenta: “examinando com muita atenção o que eu era e concluindo que podia fingir não ter corpo e não havia mundo ou lugar em que me encontrasse, mas, ao mesmo tempo, não podendo fingir não existir, sendo bastante o fato de duvidar da verdade de outras coisas para ficar demonstrado, de modo muito certo e evidente, que eu exista, enquanto que bastaria deixar de pensar, ainda que admitindo como verdadeiro tudo que imaginasse, para não haver razão alguma que me induzisse a acreditar na minha existência, concluí de tudo isto que eu era uma substância cuja essência ou natureza reside unicamente em pensar e que, para que exista, não necessita de lugar algum nem depende de nada material, de modo que eu, isto é, a alma, pela qual sou o que sou, é totalmente diversa do corpo e mesmo mais fácil de ser reconhecida do que este e, ainda que o corpo não existisse, ela não deixaria de ser tudo o que é.”. Pois bem, nossa herança cartesiana, que tanto influenciou a filosofia e ciências ocidentais, dividiu a realidade em dois reinos – mente matéria – “numerosas pessoas têm-se esforçado para racionalizar a potência causal da mente consciente dentro do dualismo cartesiano.
A ciência oferece razões irresistíveis para que se ponha em dúvida que seja sustentável uma filosofia dualista: para que haja interação entre os mundos da mente e da matéria, terá que haver intercâmbio de energia.”. Num mundo materialista como este que vivemos, decorrência das ciências dos últimos séculos, onde a realidade é material, como poderá a consciência existir? A resposta de muitos é: a consciência é um epifenômeno anômalo, ou seja, é decorrência de um processo cerebral, portanto bioquímico. A esse modo de pensar damos o nome de realismo materialista, que perdurou por séculos e ainda hoje permeia várias concepções científicas. No entanto, a nova física, as psicologias junguiana, arquetípica e transpessoal pensam de modo diverso, cada uma com certas particularidades, mas, todas convergindo para um idealismo monístico.
Goswami não é o único que contesta a posição de Descartes, DAVIES também, a partir do cogito, ergo sun ele acrescenta: “Nossa própria existência é nossa experiência primeira. No entanto, mesmo essa afirmação inatacável contém em si a essência de um paradoxo que permeia obstinadamente a história do pensamento humano. Pensar é um processo. Ser é um estado. Quando penso, meu estado mental muda com o tempo. Mas o eu ao qual o estado mental se refere permanece o mesmo. Este é provavelmente o mais antigo problema metafísico do livro – e voltou à tona como uma vingança na teoria moderna.”.  A existência do meu ser e de todos os outros seres apresenta uma certa permanência e uma identidade, há um fluxo constante de fenômenos que se sobrepõe a uma base semiconstante de seres que liga o passado e o presente e aponta para o futuro como uma possibilidade, um devir. É impossível desconectar o ser do mundo, e vice-versa.
Há uma nova teoria mecânico-quântica da consciência que objetiva  uma associação do ser com o universo, mediante umrelacionamento entre matéria e consciência. O físico quântico David BOHM acredita que: “O mental e o material são dois lados de um mesmo processo global que, como a forma e o conteúdo, estão separados apenas no pensamento e não na realidade. Há uma energia que é a base de toda realidade (...) Nunca há divisão real entre os lados mental e material em nenhum estágio do processo global”. Não há dicotomia entre o eu que pensa e o eu que sente, entre mim e o mundo a minha volta há trocas eletromagnéticas constantes que me afetam e afetam o mundo à minha volta. Interagimos consciente e inconscientemente com tudo, estamos interligados ao Todo, somos mônadas no sentido leibniziano mesmo, possuímos uma identidade, temos nossa própria unidade, mas fazemos parte de uma Unidade transcendente. Não podemos imaginar algo fora, separado, isolado desse Todo, o holismo é uma resposta possível.
Mesmo em relação a nós mesmos percebemos uma interação mente-corpo, porém estamos descobrindo que há umasuperioridade da consciência sobre a matéria. Um exemplo é o próprio gene que possui uma atitude passiva que precisa de algo exterior a matéria de si - mesmo que dê impulso e comando e o faça funcionar.  Do mesmo modo a mitose só ocorre após um comando. O DNA tem uma propriedade de se desmanchar e produzir algo novo sob um impacto. Poderíamos conjecturar que esse impacto, esse comando, é um produto psíquico? Estados psíquicos de tristeza produzem putrecinas e cadaverinas através dos microtúbulos neuronais, o que nos faz adoecer fisicamente. Idéias obsessivas acabam por criar padrões neuronais alterados, ou seja, agregam-se fatores nas proteínas que passam nos microtúbulos neuronais. O depressivo produz uma química alterada em seu cérebro que produz em seu corpo disfunções hepáticas, digestivas, e outras.
Sérgio F. de OLIVEIRA acrescenta ainda que há um código genético universal, portanto existem leis biológicas formando um Sistema Biológico que unido ao Sistema Físico ainda não explica o pensamento e tudo o que ele implica: mente, consciente, inconsciente, espírito, psiquismo, alma...ele sugere um Meta Sistema, transcendente a matéria e ao mesmo tempo imanente. Poderíamos compreender como uma autoconsciência cósmica, como pensa Goswami.
CHOPRA diz: “A bioquímica do corpo é um produto da consciência. Crenças, pensamentos e emoções criam as reações químicas que sustentam a vida de cada célula”. Ele acrescenta em relação a influência da consciência nos estados de saúde e doença: “Seria impossível isolar um simples pensamento ou sentimento, uma simples crença ou suposição, que não tenha algum efeito sobre o envelhecimento, direta ou indiretamente. Nossas células estão constantemente bisbilhotando nossos pensamentos e sendo modificadas por eles. Um surto de depressão pode arrasar com o sistema imunológico; apaixonar-se, ao contrário, pode fortificá-lo tremendamente. O desespero e a desesperança aumentam o risco dos ataques de coração e do câncer, encurtando a vida. A alegria e a realização nos matem saudáveis e prolongam a vida. Isto significa que a linha entre a biologia e a psicologia na verdade não pode ser traçada com qualquer grau de certeza. A recordação de uma situação de estresse, que não passa de um fio de pensamento, libera o mesmo fluxo de hormônios destrutivos que o estresse propriamente dito”. Nosso corpo responde inexoravelmente à consciência.          
O etologista John CROOK coloca: “A ordem da consciência – sua aparente estabilidade no tempo – é o que nos dá esta sensação de que vivemos num mundo em vez de dentro de experiências arquitetadas pelos caprichosos sentidos” ao que acrescenta Danah ZOHAR: “No entanto, essa rara qualidade de ordenação de nossa consciência limita consideravelmente a escolha de explicações físicas, como pode ser inferido do fracasso de todas as tentativas de se explicar a consciência em termos clássicos. Nossa consciência tem a característica de unidade contínuaEla se mantém coesa e permite que nossa experiência também se mantenha coesa. Esse tipo de uniformidade fixa é raro entre os processos dinâmicos da natureza, mas pode ocorrer em materiais que existem em fase condensada
Condensado de Bose/Einstein e Efeito de Herbert Frohlich
Segundo Henry Stapp, a mecânica clássica não é capaz de integrar a consciência com a ciência, já que representa uma expressão da idéia de Descartes, a qual considera a natureza dividida em duas partes não relacionadas e não interativas: a mente e a matéria. Em contraposição, ele e outros físicos têm sugerido que a consciência talvez depende da capacidade do cérebro assumir, de alguma forma, as características quânticas das fases condensadas, como no caso dos supercondutores ou dos raios laser. Mas o que é uma fase condensada? A palavra fase traduz um "estado" de algum sistema material, em que se leva em conta o "grau de alinhamento" de seus componentes. À medida que esse "grau de alinhamento" vai aumentando, a fase vai se tornando mais e mais condensada. Quando se atinge uma forma de alinhamento, a mais ordenada possível, a fase recebe o nome de condensado de Bose/Einstein. *
* - a palavra bose provém de "bosons", partículas sub-atômicas, como os fótons, associadas com campos de força e que, por promoverem o máximo alinhamento possível (agregação), entre as partes de um sistema, facilitam a concentração (condensação) de energia. Um exemplo simplista, porém didático :
Diversas bússolas estão dispostas sobre uma mesa em um compartimento blindado. Por causa da blindagem, as agulhas apontam, aleatoriamente, em todas as direções. Mas se, através de uma corrente, aumentarmos a energia eletromagnética das bússolas, as agulhas irão, aos poucos, se alinhando. Quando a intensidade da corrente eletromagnética atingir um determinado grau, as bússolas passarão a se comportar como uma única superbússola, todas as agulhas apontando, agora, numa mesma direção. Elas entraram num estado de fase condensada. Retomemos o exemplo dos supercondutores.
Pois bem, eles só atuam em temperaturas extremamente baixas, enquanto o cérebro trabalha na temperatura corporal. Logo, se a física das fases condensadas é mesmo relevante para a formação da consciência, então deve haver algum mecanismo desse tipo que funcione na temperatura normal do corpo.
E, na verdade, existe um : O chamado efeito de Herbert Frohlich, encontrado em alguns tecidos biológicos, parece atender aos critérios necessários. O efeito de Frohlich consiste num sistema de moléculas eletricamente carregadas (contêm dipolos positivos numa extremidade e negativos na outra) e atuam da seguinte forma: Quando se acrescenta, ao sistema, uma certa quantidade de energia, os dipolos passam a emitir vibrações eletromagnéticas, similares as dos radio transmissores em miniatura. Alem de um certo limite, qualquer energia introduzida a mais no sistema, faz com que as moléculas vibrem em uníssono. Elas o fazem, cada vez mais intensamente, até atingirem a forma mais ordenada possível de fase condensada, ou seja, o já mencionado condensado de Bose-Einstein.
A característica essencial deste condensado reside no fato de que as diversas partes do sistema ordenado, não só se comportam como um todo, mas também se tornam um todo: suas identidades se fundem de tal forma, que cada uma das partes perde a própria individualidade. Uma boa analogia, seria a das muitas vozes de um coral, que se fundem para, em determinados níveis de harmonia, dar lugar à "uma única voz".
Podemos concluir que os sistemas quânticos complexos, como é o caso da consciência, são auto-ordenadores e caminham em uma direção evolutiva, em direção a um Atrator Cósmico, ao Ponto Ômega, à Individuação humana e cósmica. A esse caminhar, processo maior de coerência ordenada crescente do Universo como um todo, Prigogine chama de “paradigma evolutivo”
Se a evolução de todo o Cosmos é atraída a um propósito, não será a Autoconsciência o propósito da vida humana?
Então Jung estava absolutamente correto ao afirmar que o propósito do ser humano é a Individuação, o tornar-se si-mesmo em sua plenitude, numa relação profunda consigo mesmo, com sua luz e sua sombra, e com os outros na medida que a Individuação não isola o homem do mundo, ao contrário o faz pertencente e co-responsável, desenvolve no homem o sentido de unidade com tudo e com todos.
Ercilia Simone Dalvio Magaldi
Pedagoga – Filósofa – Especialista em Psicologia Junguiana –terapeuta - mestre em CRE – PUCSP e doutora em CRE - UMESP

segunda-feira, 21 de março de 2011

Acupuntura protege o fígado do efeito de medicamentos

A acupuntura é uma boa alternativa para controlar os danos ao fígado causados pelo uso contínuo de alguns medicamentos. A constatação é do médico veterinário e acupunturista Alexandro dos Santos Rodrigues em sua tese de doutorado pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP. O trabalho investigou a influência da técnica milenar chinesa no controle de lesões hepáticas em ratos.
Animais recebendo aplicações de eletroacupuntura: cada ponto de aplicação é bilateral
“O fígado é responsável pelo processo de metabolização de medicações. Algumas pessoas tomam medicamentos continuamente e isso causa danos ao funcionamento do órgão. Este trabalho comprovou que a acupuntura pode ser usada para reduzir os prejuízos causados pelo uso contínuo de medicamentos agressivos para o fígado”, aponta.
Os animais que passaram por sessões de eletroacupuntura no ponto E36 (localizado na perna, próximo ao joelho) ou no BP6 (próximo ao calcanhar) apresentaram diminuição de lesões hepáticas. Na comparação entre esses dois grupos, a progressões das lesões foi menor nos ratos que receberam estímulo no ponto E36. “Na eletroacupuntura, as agulhas são conectadas a fios. Esses fios são ligados a uma máquina que envia um estímulo padronizado e contínuo para as agulhas”, explica o pesquisador.
O veterinário induziu as lesões hepáticas por meio da tioacetamida, substância já usada no passado como agrotóxico em lavouras. Atualmente ela é utilizada nas indústrias de couro, têxtil e de papel. No meio acadêmico, esta droga é usada por pesquisadores em modelos científicos de indução de lesões no fígado.
O experimento
O veterinário explica que existem vários graus de lesões no fígado: inicialmente, após repetidas agressões hepáticas, ocorre uma fibrose que, se não tratada, evolui até chegar à cirrose. Esta pode originar neoplasias hepáticas (câncer). “Sabemos que o fígado tem grande capacidade de recuperação, mas somente até um certo grau das lesões hepáticas”, explica.
Rodrigues trabalhou com 70 ratos wistar. Antes de iniciar o experimento, o médico colheu amostras de sangue onde avaliou oito marcadores sanguíneos ligados a lesões hepáticas. A dose de tioacetamina aplicada variou de acordo com o peso de cada animal.
Caixa de indução anestésica: pesquisador adaptou objetos para anestesiar vários animais ao mesmo tempo
Para poder aplicar as sessões de eletroacupuntura, o veterinário optou por usar o anestésico isofluorano, por via inalatória.“A maioria dos anestésicos comuns interfere de forma significativa na função hepática, e isso poderia prejudicar os resultados”, conta. A dose usada foi a necessária para manter os animais em semiconsciência. “Quando a agulha da acupuntura é inserida na pele, ela causa um estímulo que percorre via nervosas do corpo chegando até a medula óssea. Através da medula, a informação chega no cérebro, onde neurotransmissores se encarregam de emitir respostas que são transmitidas e agem em um determinado local do corpo. Se os animais ficassem totalmente sedados esse fato também poderia interferir nos resultados”, completa.
Os animais foram divididos em 7 grupos: sadios (que não passaram por nenhum tipo de intervenção); controle para tioacetamida (aplicação apenas desta droga); controle para isofluorano (aplicação apenas deste anestésico); um grupo com aplicação de eletroacupuntura no pontos E36 (localizado na perna, próximo ao joelho) e outro no BP6 (próximo ao calcanhar). Os dois grupos restantes, E36s e BP6s, receberam aplicações em pontos “falsos”, ou seja, em lugares próximos aos pontos verdadeiros (E36 e BP6), mas que não resultariam em nenhum efeito ligado a proteção hepática.
Após a pesagem e a aplicação da tioacetamida, os animais eram sedados e, em seguida, recebiam as aplicações de eletroacupuntura durante 20 minutos. Na quarta semana do experimento, o pesquisador aumentou todas as doses de tioacetamida em 10%. Ao final das sete semanas, o médico colheu novas amostras sanguíneas para avaliar os oito marcadores.
Resultados
Todos os animais que receberam doses de tioacetamida apresentaram lesões no fígado. Mas nos grupos sem uso de eletroacupuntura, as lesões hepáticas eram muito maiores. “Percebemos que no grupo controle para tioacetamida ocorreram danos consideráveis no fígado. Também encontramos muitas alterações ligadas aos oito marcadores de lesões hepáticas”, conta o pesquisador. “Já no grupo controle para isofluorano, também constatamos que o fígado apresentava lesões, apesar de este anestésico ser considerado seguro contra ocorrência de danos hepaticos”, aponta.
As lesões hepáticas eram muito maiores nos animais que não passaram por eletroacupuntura
Rodrigues lembra que a hepatite C atinge de 2,5 a 4,9% da população brasileira. Já a cirrose hepática está entre as 10 maiores causas de morte no mundo ocidental. Não existe tratamento para estes casos, sendo que a única opção é fazer um transplante de fígado. “Pense em alguém que precise tomar, diariamente, um medicamento que cause uma reação muito forte no fígado. O órgão seria afetado mesmo se estivesse em condições normais. Agora imagine se esta pessoa já estiver com o fígado comprometido devido à hepatite C ou à cirrose”, questiona o pesquisador. “A acupuntura poderia ser usada como uma maneira de barrar grande parte dos danos ao fígado provocados pelo medicamento.”
A pesquisa de Rodrigues A influência dos pontos de acupuntura Zusanli (E36) e Sanyinjiao (BP6) no desenvolvimento de lesões hepáticas induzidas por Tioacetamida, em ratos Wistar, foi apresentada no último mês de dezembro. O professor Francisco Javier Hernandez Blazquez, da FMVZ, foi o orientador do trabalho. A professora Ângela M.F. Tabosa, do Setor de Medicina Chinesa e Acupuntura do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), foi co-orientadora do estudo.
Imagens cedidas pelo pesquisador
Mais informações: (11) 7040-3434 ou emailalexsantos@usp.br, com o pesquisador Alexandro dos Santos Rodrigues

Centro realiza formação e tratamento em acupuntura

Luiza Caires, do USP Online  – lucaires@usp.br
O Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) dispõe de ambulatórios de acupuntura em vários departamentos, onde alunos de graduaçao, residentes, e alunos de especialização – todos supervisionados – aprendem a ministrar a prática. O ambulatório de acupuntura mais tradicional do HC é o do Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT). Nas aulas práticas são recebidos até 150 pacientes por dia de atendimento, que é feito sob a supervisão de docentes da FMUSP.
Supervisão do atendimento é feita por professores e monitores voluntários
O professor Wu Tu Hsing, diretor do Centro de Acupuntura do IOT,  explica que a clínica é mantida em função das aulas práticas do Curso de Especialização em Acupuntura oferecido pela unidade, já em sua oitava edição, com uma média de 30 alunos formados por ano.  Terapia chinesa milenar, a acupuntura é reconhecida oficialmente no Brasil e no mundo como especialidade médica. Já consolidada também no âmbito do SUS, com diversos serviços públicos de saúde oferecendo o tratamento aos pacientes.
Elizabeth Pricoli Vilela concluiu o curso de especialização no IOT em 2008, e agora atende como voluntária no Ambulatório de Acupuntura do Serviço de Geriatria do HC, onde também fez estágio durante o curso. “O trabalho com os idosos é bastante gratificante. Sabemos dos resultados porque eles voltam para as outras sessões, muitas vezes vindo de longe, saindo de casa às cinco da manhã”, diz a médica.
DoresEla acrescenta que a terceira idade é um público para quem a acupuntura é muito valiosa, amenizando as dores das doenças típicas da faixa etária, como artrose, osteoporose e deficiência muscular. “O idoso não pode tomar anti-inflamatórios porque comprometem rins e coração, além de poder causar úlcera gástrica, então a acupuntura equivale a alguns remédios a menos na sua ‘polifarmácia’”, ressalta.
No Centro de Acupuntura do IOT, dirigido por Wu, também atendem os alunos da graduação da Faculdade que cursam a disciplina optativa de Introdução à Acupuntura, a partir do terceiro ano. Neste caso, a supervisão do atendimento é feita por professores e também por monitores voluntários, que são ex-alunos da disciplina e do curso. Estes formam a Liga de Acupuntura da FMUSP, onde alunos mais experientes, que decidiram continuar se aprofundando na especialidade, ensinam outros alunos e compartilham casos, enquanto “os professores ficam na retaguarda”, como explica o professor Wu.
Com trabalhos de pesquisa premiados internacionalmente, a Liga também desenvolve, desde 2005, uma parceria com a ONG Doutores na Estrada para atendimento da população carente que vive na comunidade de Engenheiro Marsilac, na Zona Sul de São Paulo.
São atendidos nos ambulatórios de acupuntura do HC (além do IOT, a especialidade é praticada nos setores de pediatria, geriatria, clínica médica e no Centro de Dor) pacientes que já possuem cartão do Complexo HC, ou ainda os que são encaminhados de hospitais, postos de saúde e ambulatórios do SUS. No IOT, os pacientes com cartão do HC são atendidos às quintas-feiras, e os encaminhados pelo SUS, às terças-feiras. O Instituto fica na Rua Dr. Ovídio Pires de Campos, 333, Cerqueira César, São Paulo, próximo à estação Clínicas do metrô.
Mais informações: (11) 3067-2367 / (11) 9626-0540 ou emailstelamurgel@gmail.com, com Stela Murgel, na Assessoria de Imprensa do IOT

quinta-feira, 10 de março de 2011

Vício pode depender do indivíduo, e não da substância

Agência Fapesp

1810_17744Vícios e dependência

Uma nova descoberta sobre o papel do neurotransmissor dopamina no sistema de recompensa do cérebro poderá ajudar a compreender melhor os problemas de compulsão associados a dependência e a diversos distúrbios psiquiátricos.

O estudo, feito por cientistas das universidades de Michigan e de Washington, nos Estados Unidos, concluiu que, ao contrário do que se estimava, diferenças nos tipos de resposta a estímulos ambientais entre indivíduos podem influenciar padrões químicos no cérebro relacionados à recompensa.

Segundo os pesquisadores, a maior compreensão dessas diferenças poderá levar ao desenvolvimento de novos tratamentos e de formas de prevenção para o comportamento compulsivo.

Os resultados da pesquisa foram publicados nesta quinta-feira no site da Nature e sairão em breve na edição impressa da revista.

Função da dopamina

"Conseguimos responder a uma antiga dúvida sobre qual é o papel da dopamina no sistema de recompensa", disse Shelly Flagel, da Universidade de Michigan, primeira autora do artigo.

Os cientistas usaram uma variação de um experimento clássico, no qual um rato aprende a associar uma alavanca com a obtenção de uma recompensa, no caso, comida.

No novo estudo, os animais não precisavam pressionar a alavanca, uma vez que os cientistas estavam testando a importância do mecanismo como sinal do surgimento de comida.

O que não se sabia era se dopamina liberada no cérebro dos ratos estava relacionada à alavanca como previsão do surgimento de comida ou se a liberação do transmissor já se daria apenas pela visão da alavanca.

Depende do indivíduo

A resposta, segundo o estudo, depende do tipo de rato em questão, ou do tipo de indivíduo.

"Algumas pessoas veem um cartaz de uma sorveteria e para elas é apenas isso: um simples sinal de que há uma sorveteria por perto. Mas outras têm uma reação forte ao sinal, uma associação tão intensa com os sorvetes que os leva a até mesmo sentir o gosto e, frequentemente, a entrar e consumir o produto", disse Shelly.

Os pesquisadores estudaram ratos que foram procriados seletivamente para que tivessem certos traços comportamentais, entre os quais diferentestendências para drogas viciantes.

O grupo inclinado para as drogas direcionou mais a atenção para a alavanca, enquanto os demais se importaram mais com o local em que a comida aparecia.

Salto de felicidade

Os cientistas mediram as respostas à dopamina no cérebro dos ratos à medida que variavam em frações de segundo.

A análise mostrou que o grupo orientado ao uso de drogas teve um "salto de felicidade" apenas com a visão da alavanca, o que não ocorreu com os demais. Além disso, nesse grupo, o desejo pela alavanca continuou mesmo após a recompensa ter sido removida.

"O estudo ajuda a entender como, em algumas situações, a dopamina amplifica as mensagens do mundo à nossa volta, assumindo um papel importante no controle de comportamentos", disse Huda Akil, outro autor do estudo.