terça-feira, 1 de setembro de 2015

ZYGMUNT BAUMAN: VIVEMOS TEMPOS LÍQUIDOS. NADA É PARA DURAR


Estamos cada vez mais aparelhados com iPhones, tablets, notebooks, etc. Tudo para disfarçar o antigo medo da solidão. O contato via rede social tomou o lugar de boa parte das pessoas, cuja marca principal é a ausência de comprometimento. Este texto tem como base a ideia do "ser líquido", característica presente nas relações humanas atuais. Inspirado na obra "Amor Líquido" - sobre a fragilidade dos laços humanos, de Zigmunt Bauman. As relações se misturam e se condensam com laços momentâneos, frágeis e volúveis. Num mundo cada vez mais dinâmico, fluído e veloz. Seja real ou virtual.

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman é um dos intelectuais mais respeitados da atualidade. Aos 87 anos, seus livros venderam mais de 200 mil cópias. Um resultado e tanto para um teórico. Entre eles, “Amor liquido” é talvez o livro mais popular de Bauman no Brasil. É neste livro que o autor expõe sua análise de maneira mais simples e próxima do cotidiano, analisando as relações amorosas e algumas particularidades da “modernidade líquida”. Vivemos tempos líquidos, nada é feito para durar, tampouco sólido. Os relacionamentos escorrem das nossas mãos por entre os dedos feito água.

Bauman tenta mostrar nossa dificuldade de comunicação afetiva, já que todos querem relacionar-se. Entretanto, não conseguem, seja por medo ou insegurança. O autor ainda cita como exemplo um vaso de cristal, o qual à primeira queda quebra. As relações terminam tão rápido quanto começam, as pessoas pensam terminar com um problema cortando seus vínculos, mas o que fazem mesmo é criar problemas em cima de problemas.
É um mundo de incertezas, cada um por si. Temos relacionamentos instáveis, pois as relações humanas estão cada vez mais flexíveis. Acostumados com o mundo virtual e com a facilidade de “desconectar-se”, as pessoas não conseguem manter um relacionamento de longo prazo. É um amor criado pela sociedade atual (modernidade líquida) para tirar-lhes a responsabilidade de relacionamentos sérios e duradouros. Pessoas estão sendo tratadas como bens de consumo, ou seja, caso haja defeito descarta-se - ou até mesmo troca-se por "versões mais atualizadas".

O romantismo do amor parece estar fora de moda, o amor verdadeiro foi banalizado, diminuído a vários tipos de experiências vividas pelas pessoas as quais se referem a estas utilizando a palavra amor. Noites descompromissadas de sexo são chamadas “fazer amor”. Não existem mais responsabilidades de se amar, a palavra amor é usada mesmo quando as pessoas não sabem direito o seu real significado.
Ainda para tentar explicar a relações amorosas em “Amor Líquido”, Bauman fala sobre “Afinidade e Parentesco.” O parentesco seria o laço irredutível e inquebrável. É aquilo que não nos dá escolha. A afinidade é ao contrário do parentesco. Voluntária, esta é escolhida. Porém, e isso é importante, o objetivo da afinidade é ser como o parentesco. Entretanto, vivendo numa sociedade de total “descartabilidade”, até as afinidades estão se tornando raras.

Bauman fala também sobre o amor próprio: o filósofo afirma que as pessoas precisam sentir que são amadas, ouvidas e amparadas. Ou precisam saber que fazem falta. Segundo ele, ser digno de amor é algo que só o outro pode nos classificar. O que fazemos é aceitar essa classificação. Mas, com tantas incertezas, relações sem forma - líquidas - nas quais o amor nos é negado, como teremos amor próprio? Os amores e as relações humanas de hoje são todos instáveis, e assim não temos certeza do que esperar. Relacionar-se é caminhar na neblina sem a certeza de nada - uma descrição poética da situação.

"Para ser feliz há dois valores essenciais que são absolutamente indispensáveis [...] um é segurança e o outro é liberdade. Você não consegue ser feliz e ter uma vida digna na ausência de um deles. Segurança sem liberdade é escravidão. Liberdade sem segurança é um completo caos. Você precisa dos dois. [...] Cada vez que você tem mais segurança, você entrega um pouco da sua liberdade. Cada vez que você tem mais liberdade, você entrega parte da segurança. Então, você ganha algo e você perde algo"

____________________________________________© obvious: http://lounge.obviousmag.org/de_dentro_da_cartola/2013/11/zygmunt-bauman-vivemos-tempos-liquidos-nada-e-para-durar.html#ixzz3kViueGme

quarta-feira, 8 de julho de 2015

TRANSTORNO DELIRANTE


·         Definição
o   Transtorno Psiquiátrico cujo principal sintoma é o DELÍRIO.
§  Tipo de pensamento no qual o indivíduo tem uma crença inabalável em idéias falsas, irracionais ou sem lógica.
§  Pode ser do tipo erotomaníaco, grandioso, ciumento, persecutório, somático, misto ou indefinido.
·         História
o   Termo anterior: Transtorno Paranóide
§  Aplicado incorretamente, pois sugere que os delírios sejam sempre de conteúdo persecutório, o que não é o caso.
o   Atualmente, “paranóia” significa extrema suspeição, não baseada em uma avaliação realista. Com freqüencia é usada por leigos significando qualquer tipo de desconfiança.
o   Johann Christian, 1818: introduziu o conceito básico de paranóia na psiquiatria ao descrever transtornos do intelecto sob o termo “Verrucktheit”.
o   Karl Kahlbaum, 1853: “insanidade parcial que afeta o intelecto, mas não outras áreas de funcionamento mental”.
o   Emil Kraepelin, séc XIX: “sistema delirante persistente na ausência de alucinações e deterioração da personalidade”.
o   Sigmund Freud, séc XIX-XX: “delírios paranóides desenvolvem-se a partir de impulsos homossexuais reprimidos”.
·         Epidemiologia
o   A avaliação exata dificultada pela raridade da doença.
o   O TD é sub-relatado pois os pacientes raramente buscam auxílio psiquiátrico.
o   Nos EUA é estimada em 0,03%
o   1-2% das baixas nos sistemas de internação em saúde mental
o   Risco de morbidade durante a vida pode estar entre 0,05 e 0,1%.
o   Incidência anual: 1-3 novos casos /100.000 habitantes
o   Idade média de início: 40 anos
o   Faixa etária: de 25 a 90 anos
·         Etiologia
o   Causa desconhecida
o   Estudos familiares relatam uma prevalência aumentada nos parentes de probandos com TD
o   Fatores biológicos
§  Fatores singulares mas ainda não compreendidos no cérebro e personalidade de um paciente tendem a ser relevantes para a fisiopatologia.
§  Condições médicas não psiquiátricas que podem causar delírios: as associadas ao sistema límbico e aos gânglios basais, em pacientes com funcionamento cortical normal
§  Ainda pode surgiu como uma resposta normal a experiências anormais no ambiente, SNPeriférico ou SNCentral -> experiências alucinatórias não comprovadas.
o   Fatores psicodinâmicos
§  Pacientes socialmente isolados, que atingiram níveis de realização abaixo do esperado.
§  Situações que favorecem o desenvolvimento de TD:
·         Expectativa aumentada de receber tratamento sádico
·         Situações que aumentam a desconfiança e suspeição
·         Isolamento social
·         Situações que aumentam a inveja e o ciúme
·         Situações que diminuem a auto-estima
·         Situações que fazem com que uma pessoa veja seus próprios defeitos
·         Situações que aumentam o potencial para a ruminação sobre prováveis significados e motivações
§  Quando a frustração resultante de qualquer combinação destas condições excede os limites que o indivíduo é capaz de tolerar, ele torna-se retraído e ansioso; percebe que algo está errado e procura uma explicação para o problema -> surge o delírio.
§  Pseudocomunidade Paranóide: comunidade de conspiradores
§  Entidade delirante que une medos e desejos projetados para justificar a agressão do paciente e para proporcionar um objetivo tangível.
§  Falta de confiança nos relacionamentos
§  Ambiente familiar hostil
§  Pacientes com TD utilizam mecanismos de:
·         Formação Reativa: defesa contra agressão, sentimentos de afeição e necessidade de dependência. Esta última se transforma em forte independência.
·         Negação: para evitar a consciência de uma realidade dolorosa.
·         Projeção: para protejer a pessoa de impulsos que são inaceitáveis.
·         Características clínicas – estado mental
o   Descrição geral: paciente bem-vestido, asseado, sem evidências de ampla desintegração da personalidade ou das atividades diárias.
o   No exame do estado mental, apresenta-se como completamente normal, exceto pela presença de delirante acentuadamente normal.
o   Humor, sentimentos e afeto: consistentes com o delírio.
o   Perturbações da percepção: os pacientes com TD não possuem alucinações proeminentes ou constantes.
o   Delírios táteis ou olfativos podem estar presentes, mas sempre são consistentes com o delírio.
o   Pensamento: um transtorno do conteúdo do pensamento é o sintoma-chave do TD.
o   Os delírios são sistematizados, possíveis
·         Características clínicas – sensório e cognição
o   Orientação: sem anormalidades, a menos que o delírio envolva essa característica.
o   Memória: sem anormalidades.
o   Controle dos impulsos: atenção para avaliar a ideação ou planos de agir de acordo com o material delirante expresso pelo paciente.
o   Julgamento e insight: os pacientes com TD não tem qualquer insight sobre sua condição. O julgamento é melhor determinado avaliando-se o comportamento passado, presente e planejado do paciente.
o   Confiabilidade: são confiáveis em suas informações, exceto àquelas relacionadas ao delírio.
·         Curso da doença
o   Início dos sintomas : em geral se situam na fase intermediária ou tardia da idade adulta, mas pode ocorrer antes
o   No caso do Tipo Persecutório, o transtorno pode ser crônico, embora freqüentemente ocorram períodos de preocupação maior ou menor com as crenças delirantes
o   Há períodos de remissão completa, mas que podem ser seguidos por recaídas
·         Classificação – CID 10
o   F22 Transtornos delirantes persistentes
§  Esta categoria reúne transtornos diversos caracterizados única ou essencialmente pela presença de idéias delirantes persistentes e que não podem ser classificados entre os transtornos orgânicos, esquizofrênicos ou afetivos. Quando a duração de um transtorno delirante é inferior a poucos meses, este último deve ser classificado, ao menos temporariamente, em F23 (Transtornos psicóticos agudos e transitórios)
o   F22.0 Transtorno delirante
o   F22.8 Outros transtornos delirantes persistentes
o   F22.9 Transtorno delirante persistente não especificado
o   F24 Transtorno delirante induzido
§  Transtorno delirante partilhado por duas ou mais pessoas ligadas muito estreitamente entre si no plano emocional. Apenas uma dessas pessoas apresenta um transtorno psicótico autêntico; as idéias delirantes são induzidas na(s) outra(s) e são habitualmente abandonadas em caso de separação das pessoas.
·         Classificação – DSM IV
o   F22.0 - 297.1 - Transtorno Delirante
§  A característica essencial do TD é a presença de um ou mais delírios não-bizarros que persistem por pelo menos 1 mês (Critério A).
§  Um diagnóstico de TD não é dado se o indivíduo já apresentou um quadro sintomático que satisfazia o Critério A para Esquizofrenia (Critério B). Alucinações auditivas ou visuais, se presentes, não são proeminentes.
§  Alucinações táteis ou olfativas podem estar presentes (e ser proeminentes), se relacionadas ao tema do delírio (por ex. a percepção de emitir odor fétido por um orifício corporal).
§  Exceto pelo impacto direto dos delírios, o funcionamento psicossocial não está acentuadamente prejudicado, e o comportamento não é obviamente estranho ou bizarro (Critério C).
o   Se episódios de humor ocorrem concomitantemente com os delírios, sua duração total é relativamente breve, comparada com a duração total dos períodos delirantes (Critério D).
o   Os delírios não se devem aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (ex., cocaína) ou uma condição médica geral (ex. doença de Alzheimer, LES) (Critério E).
o   Embora seja especialmente importante determinar se os delírios são bizarros para a distinção entre TD e Esquizofrenia, este caráter bizarro pode ser difícil de julgar, especialmente entre diferentes culturas. Os delírios são considerados bizarros quando claramente implausíveis, incompreensíveis e não extraídos de experiências comuns da vida.
o   Em comparação, os delírios não-bizarros envolvem situações que poderiam concebivelmente ocorrer (por ex., ser seguido, envenenado, infectado, amado à distância ou traído pelo cônjuge ou parceiro romântico).
o   O funcionamento psicossocial é variável. Alguns indivíduos podem parecer relativamente intactos em seus papéis interpessoais e ocupacionais. Em outros, o prejuízo pode ser substancial e incluir baixo ou nenhum funcionamento ocupacional e isolamento social.
o   Aparente normalidade de seu comportamento e aparência quando suas idéias delirantes não estão sendo questionadas ou postas em prática. Em geral, o funcionamentos social e conjugal estão mais propensos a sofrer prejuízos do que os funcionamentos intelectual e ocupacional.
·         Subtipos
o   Tipo Erotomaníaco: Este subtipo aplica-se quando o tema central do delírio diz respeito a ser amado por outra pessoa. O delírio freqüentemente envolve um amor romântico e união espiritual idealizada, ao invés de atração sexual.
§  As pessoas afetadas vivem isoladas, retraídas, em geral solteiras e que tiveram contatos sexuais limitados.
o   Tipo Grandioso (Megalomania): Este subtipo aplica-se quando o tema central do delírio é a convicção de ter algum grande talento (irreconhecido) ou conhecimento de ser o autor de alguma descoberta importante. Com menor freqüência, o indivíduo pode ter o delírio de possuir um relacionamento especial com uma pessoa importante (por ex., de servir de consultor para o Presidente) ou de ser uma pessoa importante (sendo que neste caso a pessoa real pode ser considerada uma impostora).
o   Tipo Ciumento: Este subtipo aplica-se quando o tema central do delírio diz respeito a estar sendo traído pelo cônjuge ou parceiro romântico. Esta crença é injustificada e está baseada em inferências incorretas apoiadas por pequenas "evidências" (por ex., roupas em desalinho ou manchas nos lençóis), que são colecionadas e usadas para justificar o delírio.
o   Tipo Persecutório: Este subtipo aplica-se quando o tema central do delírio envolve a crença de estar sendo vítima de conspiração, traição, espionagem, perseguição, envenenamento ou intoxicação com drogas, estar sendo alvo de comentários maliciosos, de assédio ou obstruído em sua busca de objetivos de longo prazo. Pequenos deslizes podem ser exagerados e se tornar o foco de um sistema delirante. É o tipo mais comum.
o   Tipo Somático: Este subtipo aplica-se quando o tema central do delírio envolve funções ou sensações corporais. Os delírios somáticos podem ocorrer de diversas formas. Os mais comuns envolvem a convicção de estar emitindo odor fétido através da pele, boca, reto ou vagina, de estar infestado com insetos sobre ou sob a pele, de abrigar um parasito interno; de que certas partes do corpo são (contrariamente a todas as evidências) malformadas ou feias, ou de que certas partes do corpo (por ex., o intestino grosso) não estão funcionando.
o   Tipo Misto: Este subtipo aplica-se quando não há predomínio de qualquer tema delirante.
o   Tipo Inespecificado: Este subtipo aplica-se quando a crença dominante no delírio não pode ser claramente determinada ou não está descrita entre os tipos específicos (por ex., delírios de referência sem um componente persecutório ou grandioso proeminente).
·         Patologias associadas
o   Maior ocorrência de Episódios Depressivos Maiores
o   Depressão é relativamente leve e começa após o início das crenças delirantes proeminentes.
o   Pode estar associado com Transtorno Obsessivo-Compulsivo, Transtorno Dismórfico Corporal e Transtornos da Personalidade Paranóide, Esquizóide ou Esquiva.
·         Diagnóstico
o   Importante diferenciar TD de Esquizofrenia
Critérios diagnósticos para TD – DSM-IV
A. Delírios não-bizarros com duração mínima de 1 mês.
B. O critério A para Esquizofrenia jamais foi satisfeito.
Nota: alucinações táteis e olfativas podem estar presentes no Transtorno Delirante, se relacionadas ao tema dos delírios.
C. Exceto pelo impacto do(s) delírio(s) ou de suas ramificações, o funcionamento não está acentuadamente prejudicado, e o comportamento não é visivelmente esquisito ou bizarro.
D. Se episódios de humor ocorreram durante os delírios, sua duração total foi breve relativamente à duração dos períodos delirantes.

E. A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por ex., uma droga de abuso, um medicamento) ou de uma condição médica geral.
Especificar tipo (os tipos seguintes são atribuídos com base no tema predominante do(s) delírio(s):
Tipo Erotomaníaco
Tipo Grandioso
Tipo Ciumento
Tipo Persecutório
Tipo Somático
Tipo Misto
Tipo Inespecificado.

·         Comparativo – diagnósticos diferenciais
TRANSTORNO DELIRANTE
Transtornos do humor
Esquizofrenia
Humor consciente com o conteúdo dos delírios
Existe toda uma gama de sintomas afetivos adjacentes
Alucinações proeminentes
Embotamento afetivo
Transtornos do pensamento
Natureza não-bizarra dos delírios
Delírios não-bizarros durante episódios de humor
Natureza bizarra dos delírios
Início mais tardio
menor prejuízo social e ocupacional
Muito raro em ambos os sexos
Maior predomínio entre as mulheres
Incidência relativamente grande (1%)

·         Diagnósticos diferenciais
o   Transtorno Psicótico Induzido por Substância: relação cronológica entre o uso da substância e o início ou a remissão das crenças delirantes.
o   Transtorno Psicótico Compartilhado: delírios surgem no contexto de um estreito relacionamento com outra pessoa, sua forma é idêntica aos delírios da outra pessoa, e diminuem ou desaparecem quando o indivíduo com TPC é separado do indivíduo com o Transtorno Psicótico primário.
o   Transtorno Psicótico Breve: os sintomas delirantes duram menos de 1 mês.
·         Tratamento
o   Pode ser feito Ambulatorialmente.
o   Hospitalização se faz necessária quando:
§  Deve-se realizar avaliação neurológica e médica completa
§  Deve-se avaliar a capacidade de controlar impulsos violentos
§  O comportamento do paciente afetar significativamente a sua capacidade de funcionar em sua família ou no contexto ocupacional
o   O médico deve primeiramente persuadir o paciente a aceitar a hospitalização (o que ocorre com mais frequencia), porém se fracassar pode indicar o confinamento legal.
o   Farmacoterapia: drogas antipsicóticas
§  Pacientes severamente agitados, via IM
§  Doses baixas para o início do tratamento, com aumento gradual (havendo resposta-> baixa dose de manutenção)
§  2mg Haloperidol
§  Pimozida 
§  Falta de adesão ao tratamento
§  Suspensão da droga se não houver benefício.
§  Antidepressivos, lítio ou anticonvulsivantes podem ser indicados se não houver resposta ao tratamento anterior
o   Psicoterapia
§  Terapia individual é mais efetiva que a terapia de grupo
§  Confiança
§  Estimular a motivação para receber auxílio salientando sua disposição para ajudar os pacientes com sua irritabilidade  e ansiedade, sem sugerir que os delírios serão tratados
§  Evitar gratificação excessiva
§  Não fazer comentários críticos sobre os delírios ou idéias do paciente, e sim dizer-lhe que sua preocupação com o delírio tanto o angustia quanto interfere na sua vida produtiva.
§  Respeitar a necessidade da defesa da proteção
§  Demonstrar solidariedade para com a experiência interna do paciente
§  Reconhecer o sofrimento
§  Atingir a vulnerabilidade do paciente: trabalho terapêutico mais produtivo
§  Terapia familiar
O marco de um tratamento bem sucedido pode ser um ajuste social satisfatório, ao invés de um desaparecimento dos delírios de paciente.

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FONTE: http://ligapsq.blogspot.com.br/2011/02/transtorno-delirante.html

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Recomendação de Leitura


O que é loucura? 
Delírio e sanidade na vida cotidiana 
Darian Leader 


“Os insights de Leader podem ter consequências radicais 
na maneira como olhamos para a loucura.”
  Daily Telegraph 

A loucura é definida em nossa cultura pela visibilidade. Da imprensa popular às novelas e aos filmes, seu retrato é sempre extremo: explosões de violência, acessos, alucinações. Mas e se a loucura não for o que pensamos que é? E se as características que a definem não forem visíveis e dramáticas, mas sim, ao contrá- rio, extremamente discretas, compartilhadas por cidadãos medianos que jamais consultarão um psiquiatra? E se, em outras palavras, houver uma diferença entre ser louco e ficar louco?

Em O que é loucura?, o psicanalista Darian Leader dá continuidade ao seu projeto de falar de temas psicanalíticos para um público amplo. Com clareza e consistência, analisa casos, exemplos da vida cotidiana e da vida clínica, reavaliando parâmetros e critérios usados para definir e tratar aqueles que se desviam dos padrões da normalidade.

O autor defende a existência da loucura silenciosa – a ideia de que muitos de nós temos vidas interiores que estão longe de serem sãs, mas que nos permitem funcionar normalmente no mundo, sem parecermos uma ameaça à sociedade ou a nós mesmos.

Uma das vozes mais respeitadas no combate aos atuais tratamentos da desordem mental – com sintomas rotulados, remé- dios e um contato cada vez mais breve e superficial com os pacientes –, Leader prega a importância de se escutar com cuidado o paciente e respeitar seu mundo. Só assim, afirma, é possível para o terapeuta descobrir a lógica por trás do discurso de um “louco”.


DARIAN LEADER é psicanalista e um dos responsáveis por popularizar a obra de Jacques Lacan. É autor, entre outros, de Por que as mulheres escrevem mais cartas do que enviam?, Além da depressão e Por que as pessoas ficam doentes? (com David Corfield). Membro do Centro de Análise e Pesquisa Freudianas e do Colégio de Psicanalistas do Reino Unido e professor visitante honorário da Escola de Ciências Humanas e Biológicas da Universidade de Roehampton, exerce a psicanálise em Londres.

TRECHO DO LIVRO
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Recomendo a leitura deste livro. Essencial para quem é profissional ou não.


terça-feira, 3 de março de 2015

DISSOCIAÇÃO

Artigos de Psicoterapia Integrativa

A PSICOTERAPIA DA DISSOCIAÇÃO:
Questionamento, Harmonização e Envolvimento

Richard G. Erskine


A dissociação é um fenômeno defensivo complexo que visa manter a estabilidade física e mental. A defesa pela dissociação durante uma experiência traumática permite que a pessoa que a usa remova-se cognitivamente e/ou emocionalmente da experiência e adaptar-se fisicamente e comportalmente a exigências externas.
O uso continuado da dissociação após uma experiência traumática permite à pessoa desligar-se das necessidades e emoções relativas a essa e escapar das lembranças da experiência traumática e de seu impacto devastador.
A dissociação é processo defensivo predominante presente em vários distúrbios de personalidade, distúrbios de stress pós-traumático e distúrbios esquizóides e é usada em muitas outras situações clínicas menos sérias, freqüentemente mascaradas por ansiedade ou depressão. A presença da dissociação como processo defensivo nos dá uma indicação altamente confiável de que abuso mental, físico ou sexual possa ter ocorrido num período anterior da vida de uma pessoa. Em alguns casos a dissociação é uma reação ao abandono precoce, experiências quase fatais, sofrimento agudo prolongado ou negligência provocada. Estas experiências esmagadoras que ocorrem geralmente na infância, ameaçam a estabilidade emocional e cognitiva e a segurança física, e até mesmo a vida do indivíduo.

DEFESAS DISSOCIATIVAS

As defesas surgem como uma proteção contra o desconforto causada por necessidades não satisfeitas e emoções não expressa, o que inclui um sofrimento por estímulos esmagadores (opressores). Para conseguir viver e adaptar-se tão bem quanto possível, várias pessoas precisam manter estas necessidades, sentimentos e lembranças traumáticas longe da consciência. Isto resulta na formação de defesas. Como estas defesas mantêm-se através do tempo elas interrompem a habilidade de contato de um indivíduo tanto internamente com o self quanto externamente com os outros. É devido a esta fixação de defesa interruptoras de contato que as experiências traumáticas mantêm-se dissociadas como estado separados do ego ao invés de integrar-se a um estado de ego neo-psíquico .
O ego neo-psíquico em qualquer idade é um processo contínuo de contato e surgimento. Se a pessoa traumatizada também sofreu uma trauma de contato numa relação protetora, a experiência clínica indica que esta pessoa provavelmente não conseguirá integrar a experiência traumática. As necessidades não satisfeitas durante o trauma não recebem respostas ou validação satisfatórias, o que piora o trauma. Isto inicia o processo de isolamento da experiência da consciência e, em situações mais extremas pode levar ao isolamento de aspectos do self em relação à consciência. A pessoa precisa fazer uso de um conjunto complexo de defesas para limitar o contato e encapsular a consciência da experiência traumática, sentimentos relacionadas e necessidades não satisfeitas. Estas necessidades, sentimentos e experiências relacionadas ao trauma situam-se dentro do ego como um estado separado de consciência, tal como quando se engole um caroço, sem ser digerido, sem estabelecer contato e sem ser contactável (estado de ego arqueopsíquico). Um trauma fixado não se integra a experiências e aprendizado posteriores.
Após o trauma ter ocorrido existe uma necessidade intensa de um outro confiável que possa responder empaticamente às reações emocionais extremas e às necessidades não satisfeitas, harmonizando-se com o “inominável” e oferecendo uma compreensão realista do ocorrido e dando segurança através de envolvimento de modo contínuo.
A dissociação começa porque as pessoas presentes na vida de um indivíduo não conseguem prover uma função protetora restauradora necessária. Em várias situações de incesto, a criança ouvia que ela havia gostado, ou o isolamento e depressão da criança foram ignorados pelos adultos. A ausência de harmonização, validação e transações empáticas por parte de um outro significativo faz com que a pessoa desenvolva profundas atitudes de confisco, uma perda de contato com as necessidades de relacionamento e uma fragmentação do ego através de um conjunto de defesas complexas que resulta em dissociação.
Na terapia orientada ao relacionamento que fornece contato consciente, confiança e segurança através de questionamento, harmonização e envolvimento torna-se essenciais para a psicoterapia bem sucedida de desordens dissociadas.

CONTATO:
Questionamento, Harmonização e Envolvimento


O contato é o meio pelo qual o processo de dissociação pode ser dissolvido e as experiências traumáticas encapsuladas, as necessidades e sentimentos ocultos podem ser integrados em um sentido coesivo do self – um ego neo-psíquico. O contato é a consciência integral das sensações internas, sentimentos, necessidades, atividades sensório – motoras, pensamentos e lembranças e a rápida mudanças para a consciência completa das ocorrências externas registradas pelos órgão dos sentidos. Com o contato pleno interno e externamente, existe, portanto, uma integração contínua de experiências. As defesas interrompem um contato pleno. Elas agem para impedir a consciência, interna ou externamente.
Contato também se refere à qualidade das transações entre duas pessoas: a consciência plena da seu próprio self e do outro, como exemplificado por um encontro autêntico e sensível.
Um princípio básico de uma psicoterapia orientada de contato à integridade do cliente. Através de respeito, bondade e compaixão, uma relação interpessoal gerando uma afirmação da integridade do cliente pode ser estabelecida. Este respeito pode ser melhor descrito como um convite consciente ao contato interpessoal entre cliente e terapeuta, com apoio simultâneo ao cliente para que este contate sua experiência interna e receba reconhecimento externo da mesma experiência. Freqüentemente pode-se identificar e discutir o isolamento do contato, mas o cliente nunca pode ser forçado, levado a ou induzir a mais abertura do que este ser capaz de dar. O contato entre terapeuta e cliente torna-se possível quando o terapeuta está completamente presente: quando ele ou ela está harmonizado (a) com seus processos internos e comportamentos externos, quando esta continuamente consciente da fronteira entre self e cliente e está claramente observando a psicodinâmica do cliente.
O contato dentro da psicoterapia é como os alicerces de um edifício que não pode ser vistos mas suportam toda a estrutura visível, é o contato que dá a segurança para baixar as defesas, novamente sentir e lembrar-se.
A psicoterapia freqüentemente começa com começa com diálogos abertos e um envolvimento num processo de contrato. A negociação contínua de contratos terapêuticos é um elemento importante no estabelecimento de um relacionamento terapêutico completo em termos de contato. Os traumas que produziram as defesas que compõem a dissociação geralmente ocorrem em um ambiente onde o cliente não podia negociar suas próprias necessidades de segurança física e mental. Ao contrário, ele foi privado de um sentimento de impacto, avaliação e eficácia. Em vez de aprender a confiar na negociação como um meio de alcançar satisfação de suas necessidades ele sente uma situação em que ser á completamente oprimido ou terá que usar métodos fortes de manipulação ou controle, aí incluindo a dissociação.
O uso de contratos é uma parte essencial do contrato terapêutico inicial com clientes que dissociam, talvez até mais importante do que o tratamento de outros problemas psicológicos, pois seu ser físico ou mental foi validado.
Contratos que mapeiam especificamente o território terapêutico antes da intervenção torna-se mais e mais importante à medida em que a defesa e a amnésia desaparecem. Estes contratos contém exemplos claros do que o terapeuta vai fazer e não vai fazer, e como o cliente pode interromper os procedimentos com segurança. No processo psicoterápico podem surgir algumas lembranças vividas de experiências que podem tornar-se uma surpresa para o cliente e para o terapeuta. Estas lembranças podem ser imprevista e, portanto, não podem ser negociadas antecipadamente. Porém, pode-se estabelecer previamente procedimentos em relação a como cliente pode sinalizar que a experiência está se tornando opressora e como o terapeuta pode interromper a intervenção. Um cliente usou uma palavra específica para indicar um conjunto de sentimentos necessidades e defesas suspensa e outros usaram gestos e sons.

QUESTIONAMENTO:

O questionamento é um foco contínuo na psicoterapia orientada ao contato. Ela começa com a suposição de que o terapeuta nada sabe da experiência do cliente e, portanto precisa lutar continuamente para entender o significado subjetivo dos processos intrapsíquicos e comportamento do cliente. Através da investigação cuidadosa da experiência fenomenológica do cliente, estes se torna mais e mais consciente das necessidades, sentimentos e comportamentos arcaicos e atuais. E com consciência plena e com a ausência de defesas internas que necessidades e sentimentos fixados em traumas passados podem se integrar no ego neo-psíquico plenamente operante. Como benefício secundário do questionamento, temos uma melhor compreensão e harmonização do terapeuta em relação a processos internos do cliente.
Deve-se enfatizar que o processo de questionamento é tão ou mais importante que o conteúdo. O questionamento por parte do terapeuta precisa mostrar empatia em relação à experiência subjetiva do cliente para que seja eficaz na descoberta e revelação dos fenômenos internos (sensações físicas, sentimentos, pensamentos, significados, crenças, decisões, esperanças e lembranças) e no desnudamento das interrupções interna e externas do contato usadas na dissociação.
O questionamento começa com o interesse genuíno nas experiências subjetivas e construção de significado pelo cliente. Ele prossegue com perguntas do terapeuta sobre como o cliente está se sentindo, como ele experiência a si próprio e a outros ( inclusive o terapeuta) e quais conclusões ele tira. Ele pode continuar com questões sobre o passado envolvendo quando uma experiência ocorreu e quem foi significativo na vida da pessoa. O questionamento inclui uma investigação da experiência do cliente com fenômenos de defesa que possam estar presentes e como estes interrompem contato. No tratamento a dissociação, o questionamento é utilizado na parte preparatória da terapia para aumentar a consciência do cliente sobre quando e como este dissocia.
O questionamento envolve a investigação das experiências do cliente em relação à interrupções de contato componentes da dissociação. O paciente está usando ativamentes auto-hipnótica? Como é que eles fazem isto? Alguns clientes relataram que reviram os olhos, se sentem muito pequeno ou balançam um dedo. Durante o tratamento de um cliente que dissocia pode ser importante verificar o funcionamento da dissociação relevante às necessidade do indivíduo como um todo e às necessidades do indivíduo e as necessidades dos estados de ego fragmentados. No caso de personalidades múltiplas cada “personalidade” pode ter uma função específica a cumprir. Tal como expressar um dado sentimento (só raiva ou só tristeza), acionando uma defesa isolada (limpeza compulsiva ou amnésia), ou convivendo com as exigências da vida (organização ou produtividade). Freqüentemente, uma personalidade realiza uma função protetora inexistente no passado e que ainda pode estar ausente em relacionamentos presentes, tais como validação, harmonização com necessidades e sentimentos ou no provimento de segurança e proteção.
Questione sobre quem falhou nas funções de desenvolvimento necessárias que deveriam ter sido realizadas por um protetor responsável. Como eles falharam? Também questione sobre a provável “antecipação por parte do cliente de que os outros vão novamente deixá-lo “na mão” num relacionamento. Esta antecipação constitui uma das dimensões da transferência – o temor de retraumatizar e a justificativa para manter as defesas em relações de contatos.
Torna-se essencial na psicoterapia de dissociação que o terapeuta entenda cada necessidade única do cliente de uma outra pessoa estabilizadora, validadora e reparadora para assumir algumas das funções de relacionamento que o cliente está tentando suprir sozinho. Uma terapia de relacionamento e esteja envolvido através de validação empática de sentimentos e necessidades, oferecendo segurança e apoio.

HARMONIZAÇÃO:

A harmonização é um processo em duas partes. O sentido de estar plenamente consciente dos sentimentos, necessidades e sentenças da outra pessoa e as transmissão desta consciência ao outro. A harmonização requer uma compreensão das necessidades baseadas no desenvolvimento e sentimentos relacionados que foram fixados na experiência traumática e que agora requer expressão. Porém, mais do que compreensão, a harmonização é um sentimento emocional e cinestético do outro. Conhecer sua experiência através de metaforicamente estar na do outro. A harmonização eficaz também necessita que o terapeuta mantenha–se simultaneamente consciente do limite entre cliente e terapeuta. A harmonização é reforçada ao focalizarmos no cliente na idade na qual este sofreu a experiência traumática, e sabendo o que uma pessoa traumatizada naquela idade tenta expressar, o que ela precisa no seu modo de sentir necessidades e na sua necessidade de um relacionamento protetor seguro e validante com um protetor.
A comunicação de harmonização nos dá uma validação das necessidades e sentimentos dos clientes e cria bases para reparar os fracassos de relacionamentos anteriores. A harmonização se manifesta por aquilo que dizemos, tal como “aquela mágica”, “você parecia apavorado”, ou “você precisava de alguém para estar lá com você”. A harmonização se comunica mais freqüentemente através dos movimentos do corpo e expressões faciais do terapeuta que mostram ao cliente que seu afeto existe, e é notado pelo terapeuta, que é significativo e que causa impacto no terapeuta.
As defesas que abrangem a dissociação estão conectadas a traumas que envolve afeto intenso. Para evitar as emoções dolorosas e freqüentemente debilitada, usam-se defesas internas e externas para reprimir a consciência do trauma e as necessidades e sentimentos relacionados. O cliente geralmente experiencia a harmonização como o terapeuta suavemente passando pelas defesas e fazendo contato com a parte criança há muito tempo esquecida. Com o passar do tempo, isto resulta numa diminuição de interrupções externas do contato e uma correspondente dissolução de defesas internas.
A comunicação da harmonização por parte do terapeuta pode ser sentida pelo cliente como validação, conforto e segurança, desta forma permitindo que a expressão de necessidades e sentimentos seja correspondida por uma resposta adequada por parte do terapeuta. Freqüentemente a harmonização gera um senso de segurança e estabilidade no cliente, o que permite que este desmanche a negação e experiencie o retorno total à experiência traumática, tornando-se plenamente consciente da dor do trauma, o fracasso(s) relacionamento(s) e o self perdido.
Não é incomum porém que a comunicação de harmonização por parte do terapeuta encontre uma reação de fúria intensa, isolamento, ou até mesmo, dissociação adicional. A justaposição da harmonização por parte do terapeuta é a lembrança da falta de harmonização em relacionamentos significantes anteriores produz lembranças emocionais de necessidades não satisfeitas. Ao invés de vivenciar estes sentimentos o cliente pode reagir defensivamente com medo do contato oferecido pelo terapeuta. O contraste entre o contato disponível com o terapeuta e a falta de contatos no(s) trauma(s) original(is) é freqüentemente mais forte do que o cliente consegue suportar e este então, se defende do contato presente para evitar as lembranças emocionais.
É importante que o terapeuta trabalhe sensatamente a justaposição. O afeto e o comportamento expressos pelo cliente são uma tentativa de repudiar as lembranças emocionais. Terapeutas que não levam em considerações defensivas podem identificar erroneamente a reação da justaposição como sendo uma transferência negativa e/ou vivenciar sentimentos contra-transferenciais intensos como resposta à fuga do contato interpessoal por parte do cliente.
O conceito de justaposição possui importância primária para o terapeuta. Ele permite uma compreensão da intensa dificuldade que o cliente possui em contrastar o contato atual oferecido pelo terapeuta com a consciência de que os relacionamentos de contato não foram bem-sucedidos no passado.
Reações de justaposição podem ser um sinal de que a terapia esta progredindo mais rapidamente do que a capacidade de assimilação do cliente. Freqüentemente é útil retomar contrato terapêutico e esclarecer o propósito da terapia. Em algumas situações explicar o conceito de justaposição mostra-se benéfico. Na maior parte das vezes, um questionamento cuidadoso da experiência fenomenológica da interrupção do contexto atual revela as lembranças emocionais de desilusão e relacionamento doloroso.
Ao dissolver a interrupção do contato, o relacionamento de contato oferecido pelo terapeuta dá ao cliente um sentimento de validação, cuidado apoio e compreensão –“há alguém a minha espera”. Este envolvimento por parte do terapeuta é uma característica essencial na derrubada das defesas que formam a dissociação e uma solução dos traumas e relacionamentos não retribuídos.

ENVOLVIMENTO:

O envolvimento é melhor compreendido através da percepção do cliente – a sensação de que o terapeuta oferece contato. Ele evolui do questionamento empático do terapeuta sobre a experiência do cliente e se desenvolve através da harmonização de suas necessidades. O envolvimento é o resultado da presença do terapeuta de corpo e alma, com e pela pessoa, de uma maneira que seja apropriada ao nível de funcionamento evolucional do cliente. Este estágio inclui um interesse legítimo no mundo interpessoal e intrapsíquico do cliente e uma comunicação deste interesse através de atenção, questionamento e paciência.
O envolvimento começa com o compromisso do terapeuta com o bem-estar do cliente e com o respeito por suas experiências fenomenológicas. O contato pleno trona-se possível quando o cliente sente que o terapeuta:
1 – respeita cada uma das defesa;
2 – permanece sintonizado (harmonizado) com seu afeto e necessidades;
3 – é sensível ao funcionamento psicológico da idade em que o(s) trauma(s) ocorreu/ocorreram
4 – Mostra-se interessado em compreender a sua maneira de elaborar significado do(s) trauma(s);
O conjunto complexo de defesa que formam dissociação foi erguido na ausência de um envolvimento protetor e respeitoso por uma outra pessoa confiável. Clientes que confiaram na dissociação como um da medida protetora sentira, que eles sozinhos tiveram que proteger e confrontar-se com estímulos opressores e agressivos. As defesas se fixam pela falta de um contato com um outro confiável que oferece satisfação às necessidades e apoio.
O terapeuta precisa estar constantemente sintonizado com a habilidade do cliente de tolerar as conscientizações emergentes de experiências traumáticas de modo a não oprimir este novemente na terapia, como ocorreu no trauma original.
A recordação de experiências traumáticas e de negligência pode ser assustadora e dolorosa para o cliente, e portanto o envolvimento terapêutico se mantém pela vigilância constante pelo terapeuta provendo um ambiente e um relacionamento de segurança. Quando o questionamento das experiências fenomenológicas do cliente e as regressões terapêuticas ocorrem num local calmo e fechado, as defesas fixadas são mais e mais aliviadas e as necessidades e sentimentos relativos às experiências traumáticas podem ser integradas.
Às vezes ocorre que o cliente tenta explicar a harmonização e compreensão num “acting-out(representando) um problema sobre o qual não consegue falar ou expressar de nenhuma outra maneira. Esta expressão é simultaneamente um desvio defensivo das lembranças emocionais e uma tentativa de comunicar seus conflitos internos. Confrontos ou explicações podem intensificar as defesas tornando a conscientização de necessidades e sentimentos menos acessível à consciência. O envolvimento inclui um questionamento brando e respeitoso da experiência interna do “acting-out”. O interesse genuíno por parte do terapeuta na comunicação, honrando esta (que freqüentemente pode ocorrer por via que a da linguagem), é um aspecto essencial do envolvimento terapêutico.
O envolvimento pode incluir o terapeuta agindo ativamente ao auxiliar o cliente a desmontar retroflexões repressivas e a ativar respostas que estava inibidas, tais como pedir socorro ou lutar. Demonstrações de compaixão ou desvelações das reações internas do cliente por parte do terapeuta são também demonstrações de envolvimento. Este processo também pode incluir respostas as necessidades de desenvolvimento anteriores numa maneira que simbolicamente represente realização de uma terapia orientada ao contato não é o da satisfação de necessidades arcaicas. Esta é uma tarefa impossível e desnecessária. Ao invés disso, o objetivo é dissolver defesas fixas que interrompem contatos e que interferem com a satisfação de necessidades presentes e com o pleno contato com o self e com os outros na vida atual.
Uma psicoterapia orientada ao contato atende às necessidade atuais de um cliente por meio de questionamento, harmonização e envolvimento; necessidades estas de uma relação de proteção emocional, de um modo reparador e sustentável. O objetivo deste tipo de terapia é integração de experiências carregadas de afeto e uma reorganização intrapsíquica do cliente em suas crenças sobre a self os outros e a qualidade de vida.
O contato facilita a dissolução de defesa e a integração de partes dissociadas da personalidade. Através do contato as experiências não resolvidas, inconscientes e repudiadas são re-integradas a um self coeso. Com a integração se torna possível para a pessoa enfrentar cada momento com espontaneidade e flexibilidade para resolver os problemas da vida e relacionar-se com as pessoas sem a defesa da dissociação.

NT: O termo “attunement”, aqui traduzido por “harminização”, também pode ser traduzido por “sintonia” ou “sintonização”.




FONTE: http://www.integrativetherapy.com/pt/articles.php?id=49