O método do Diálogo Aberto foi desenvolvido
por Jaakko Seikkula e sua equipe, no início
da década de 1980, na Finlândia, na região
oeste da Lapônia, para o enfrentamento da
crise psicótica. O Diálogo Aberto engloba
uma filosofia e um conjunto de práticas que
se diferem radicalmente das convencionais,
contribuindo significativamente para o processo
de desinstitucionalização naquele país
e que podem vir a contribuir em outros contextos
(SEIKKULA; ALAKARE; AALTONEN, 2001; SEIKKULA,
2011; SEIKKULA, 2014).
O Diálogo Aberto é baseado em sete princípios.
O primeiro consiste na ‘ajuda imediata’,
que pressupõe que haja uma equipe de
atenção à crise à disposição, de modo que o
primeiro atendimento ocorra nas primeiras
24 horas após o primeiro contato, preferencialmente
no domicílio do usuário, com
o objetivo de prevenir a hospitalização. O
segundo princípio trata da ‘inclusão da rede
social do usuário’, como a família, os amigos
e vínculos significativos em todas as reuniões
de tratamento, sem que nenhuma decisão
seja tomada fora delas. O terceiro princípio
está relacionado com a ‘flexibilidade’, que
deve ser garantida através da adaptação do
tratamento às necessidades específicas de
cada caso. O quarto princípio é a ‘responsabilidade’,
considerando que o técnico que
atende primeiramente o usuário organizará
as reuniões sucessivas. O quinto princípio é o
da ‘tolerância à incerteza’, que pressupõe encontros
iniciais frequentes (até diários) nos
primeiros 10-12 dias de tratamento, como um
empenho para evitar decisões precipitadas.
Por
exemplo, o uso de neurolépticos não é
iniciado na primeira reunião. Em vez disso,
a sua pertinência deve ser discutida em, pelo
menos, três reuniões antes da introdução. O
sexto princípio é o da ‘continuidade psicoló-
gica’, que é garantida em todas as etapas do
tratamento. O sétimo princípio é o dialogismo,
sendo garantido como foco do tratamento
a geração de diálogo entre as pessoas nas
reuniões, valorizando a construção conjunta
de entendimentos e saídas (SEIKKULA; ALAKARE;
AALTONEN, 2001).
O Diálogo Aberto ganhou atenção internacional
porque seu uso no tratamento de
pessoas com primeiro episódio de psicose é
associado, na literatura científica, à redução
da incidência do desenvolvimento de sintomas
crônicos e de incapacidades decorrentes
da psicose e ao uso mínimo de medicação psicotrópica
(SEIKKULA ET AL., 2003; SEIKKULA ET AL., 2006;
AALTONEN; SEIKKULA; LEHTINEN, 2011; SEIKKULA; ALAKARE;
AALTONEN, 2011; THOMAS, 2011). Ainda, são encontrados
os estudos de Skalli e Nicole (2011), Gromer
(2012) e Lakeman (2014), que são os três estudos
de revisão de literatura sobre o Diálogo
Aberto, que enfocam, particularmente, os
êxitos obtidos no tratamento de pessoas com
diagnósticos de crises psicóticas.
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Fonte: Artigo
Diálogo Aberto: a experiência finlandesa e
suas contribuições
Open Dialogue: the finnish experience and its contributions
Luciane Prado Kantorski, Mario Cardano