segunda-feira, 19 de março de 2018

Diálogo Aberto - o enfrentamento da crise psicótica

O método do Diálogo Aberto foi desenvolvido por Jaakko Seikkula e sua equipe, no início da década de 1980, na Finlândia, na região oeste da Lapônia, para o enfrentamento da crise psicótica. O Diálogo Aberto engloba uma filosofia e um conjunto de práticas que se diferem radicalmente das convencionais, contribuindo significativamente para o processo de desinstitucionalização naquele país e que podem vir a contribuir em outros contextos (SEIKKULA; ALAKARE; AALTONEN, 2001; SEIKKULA, 2011; SEIKKULA, 2014). O Diálogo Aberto é baseado em sete princípios. O primeiro consiste na ‘ajuda imediata’, que pressupõe que haja uma equipe de atenção à crise à disposição, de modo que o primeiro atendimento ocorra nas primeiras 24 horas após o primeiro contato, preferencialmente no domicílio do usuário, com o objetivo de prevenir a hospitalização. O segundo princípio trata da ‘inclusão da rede social do usuário’, como a família, os amigos e vínculos significativos em todas as reuniões de tratamento, sem que nenhuma decisão seja tomada fora delas. O terceiro princípio está relacionado com a ‘flexibilidade’, que deve ser garantida através da adaptação do tratamento às necessidades específicas de cada caso. O quarto princípio é a ‘responsabilidade’, considerando que o técnico que atende primeiramente o usuário organizará as reuniões sucessivas. O quinto princípio é o da ‘tolerância à incerteza’, que pressupõe encontros iniciais frequentes (até diários) nos primeiros 10-12 dias de tratamento, como um empenho para evitar decisões precipitadas. Por
exemplo, o uso de neurolépticos não é iniciado na primeira reunião. Em vez disso, a sua pertinência deve ser discutida em, pelo menos, três reuniões antes da introdução. O sexto princípio é o da ‘continuidade psicoló- gica’, que é garantida em todas as etapas do tratamento. O sétimo princípio é o dialogismo, sendo garantido como foco do tratamento a geração de diálogo entre as pessoas nas reuniões, valorizando a construção conjunta de entendimentos e saídas (SEIKKULA; ALAKARE; AALTONEN, 2001). O Diálogo Aberto ganhou atenção internacional porque seu uso no tratamento de pessoas com primeiro episódio de psicose é associado, na literatura científica, à redução da incidência do desenvolvimento de sintomas crônicos e de incapacidades decorrentes da psicose e ao uso mínimo de medicação psicotrópica (SEIKKULA ET AL., 2003; SEIKKULA ET AL., 2006; AALTONEN; SEIKKULA; LEHTINEN, 2011; SEIKKULA; ALAKARE; AALTONEN, 2011; THOMAS, 2011). Ainda, são encontrados os estudos de Skalli e Nicole (2011), Gromer (2012) e Lakeman (2014), que são os três estudos de revisão de literatura sobre o Diálogo Aberto, que enfocam, particularmente, os êxitos obtidos no tratamento de pessoas com diagnósticos de crises psicóticas.

_______________________
Fonte: Artigo
Diálogo Aberto: a experiência finlandesa e suas contribuições Open Dialogue: the finnish experience and its contributions Luciane Prado Kantorski, Mario Cardano