quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Relacionamentos


Os relacionamentos são um assunto que gosto de pesquisar e debater, especificamente aqueles entre marido e mulher. Na verdade, são as ligações mais importantes que alguma vez teremos e que podem afetar as nossas vidas para melhor ou para pior.
O que ajuda a manter um relacionamento é continuar a alimentá-lo empregando o mesmo esforço que empreendemos para o a encontrar. Um encontro às cegas, contactos por internet, encontros a quatro – colocamo-nos em todo o tipo de situação desconfortável que possamos imaginar e, uma vez casados, é quase como se riscássemos mais um item da nossa lista de coisas para fazer. Casado, feito. Filhos, feito. Carreira, feito. Temos frequentemente na nossa mente uma visão romântica sobre como será a nossa vida após o casamento, que geralmente não é baseada na realidade. Inevitavelmente, a lua-de-mel termina e a vida continua. Ficamos ocupados com o trabalho, passamos muito tempo com os colegas, tornamo-nos mais próximos dos nossos amigos ao conversar sobre os problemas do nosso relacionamento, e saindo juntos com as crianças. Acabamos por passar mais tempo separados e a confiar nessas pessoas do que com a pessoa com quem partilhamos a nossa vida.
É necessário criar tempo para podermos voltar a estar com a nossa cara-metade, tempo de conexão e partilha. Este é um aspeto fundamental de qualquer relacionamento. Temos que investir tempo. Esta conexão tem o potencial de ser totalmente satisfatória e plena, e pode ajudar-nos a crescer até níveis de intimidade emocional dos quais nem sequer temos consciência.
Infelizmente, muito frequentemente, os casais não investem de forma consistente em alimentar o seu amor e, quando surgem os desafios, não existe uma base sólida a partir da qual trabalhar. É por isso que acredito que esta ideia de alimentar um relacionamento é provavelmente um dos aspetos mais importantes. É a própria base sobre a qual depende o resultado de futuras experiências e conflitos.
Assim, gostaria de partilhar quatro aspetos fundamentais que são importantes para alimentar os relacionamentos:
1. Concentrem-se conscientemente no que existe de bom no outro. É necessário fazer um esforço consciente para reconhecer o que há de bom porque é isso que nos permite apreciar o nosso parceiro. Isto é algo que fazemos assim que começamos a sair com alguém. Não colocamos ênfase nos aspetos negativos e sobrevalorizamos os positivos. Infelizmente, as balanças pendem para o lado contrário depois de nos casarmos. Somente através de um esforço consciente podemos criar gentileza, carinho e apreço de forma consistente um com o outro, para que o nosso desejo seja realmente o de honrar a expressão “até que a morte nos separe”.
2. Apreciem os pequenos momentos de intimidade e divertimento. Encontrar oportunidades nas experiências do dia-a-dia para criar e participar em bonitos momentos e lembranças juntos faz toda a diferença. É extremamente importante assumirem um compromisso de que nenhum problema ou obstáculo terá mais importância do que o vosso compromisso um com o outro.
3. Sejam vulneráveis um com o outro. Sei que a própria palavra não soa bem, mas dar o seu coração a outra pessoa em quem confia e que ama é algo bonito e necessário. Mesmo que seja difícil de fazer. Podemos ser demasiado orgulhosos ou desconfiados para nos tornarmos vulneráveis, mas pode receber tanto amor e conexão deste tipo de abertura.
4. Reconciliação. Isto é absolutamente necessário, porque depois de uma discussão entre duas pessoas, geralmente uma sai da sala e não regressa para dizer “Estou arrependido do que disse”. Esse assunto fica enterrado. E depois vem o dia seguinte com outra discussão, geralmente sobre algo insignificante, como o comando da televisão ou de quem é a vez de passear o cão. Este ciclo torna-se a regra e transforma-se, em pouco tempo, na base do casamento. Voltarem a juntar-se para a reconciliação é crucial, bem como debater o que aconteceu e aprender com isso.

“A mudança é a lei da vida. E aqueles que olham apenas para o passado ou para o presente, certamente perderão o futuro.” – John F. Kennedy

Não existem casamentos estáveis. Podem existir casamentos felizes, mas não estáveis. Ou estamos a crescer ou a retroceder. E isso é verdade em todas as áreas da nossa vida. O constante não existe, apenas mudança e movimento. Esta é a “lei da vida”, motivo pelo qual acredito que alimentar os relacionamentos seja tão importante. Devemos a nós próprios e às pessoas que amamos não nos conformarmos com a mediocridade de forma alguma, e sim alimentar os nossos relacionamentos e permitir que se tornem numa fonte de alegria, apoio e amor, que era o objetivo original.

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sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

DSM V

allen-frances
 Allen Frances, atualmente professor de psiquiatria da Duke University, dirigiu a quarta edição do manual de psiquiatria DSM

Allen Frances (Nova York, 1942) dirigiu durante anos o Manual Diagnóstico e Estatístico (DSM), documento que define e descreve as diferentes doenças mentais. Esse manual, considerado a bíblia dos psiquiatras, é revisado periodicamente para ser adaptado aos avanços do conhecimento científico. Frances dirigiu a equipe que redigiu o DSM IV, ao qual se seguiu uma quinta revisão que ampliou enormemente o número de transtornos patológicos. Em seu livro Saving Normal (inédito no Brasil), ele faz uma autocrítica e questiona o fato de a principal referência acadêmica da psiquiatria contribuir para a crescente medicalização da vida.


Pergunta. No livro, o senhor faz um mea culpa, mas é ainda mais duro com o trabalho de seus colegas do DSM V. Por quê?
Resposta. Fomos muito conservadores e só introduzimos [no DSM IV] dois dos 94 novos transtornos mentais sugeridos. Ao acabar, nos felicitamos, convencidos de que tínhamos feito um bom trabalho. Mas o DSM IV acabou sendo um dique frágil demais para frear o impulso agressivo e diabolicamente ardiloso das empresas farmacêuticas no sentido de introduzir novas entidades patológicas. Não soubemos nos antecipar ao poder dos laboratórios de fazer médicos, pais e pacientes acreditarem que o transtorno psiquiátrico é algo muito comum e de fácil solução. O resultado foi uma inflação diagnóstica que causa muito dano, especialmente na psiquiatria infantil. Agora, a ampliação de síndromes e patologias no DSM V vai transformar a atual inflação diagnóstica em hiperinflação.
P. Seremos todos considerados doentes mentais?
R. Algo assim. Há seis anos, encontrei amigos e colegas que tinham participado da última revisão e os vi tão entusiasmados que não pude senão recorrer à ironia: vocês ampliaram tanto a lista de patologias, eu disse a eles, que eu mesmo me reconheço em muitos desses transtornos. Com frequência me esqueço das coisas, de modo que certamente tenho uma demência em estágio preliminar; de vez em quando como muito, então provavelmente tenho a síndrome do comedor compulsivo; e, como quando minha mulher morreu a tristeza durou mais de uma semana e ainda me dói, devo ter caído em uma depressão. É absurdo. Criamos um sistema de diagnóstico que transforma problemas cotidianos e normais da vida em transtornos mentais.
P. Com a colaboração da indústria farmacêutica...
Os laboratórios estão enganando o público, fazendo acreditar que os problemas se resolvem com comprimidos.
R. É óbvio. Graças àqueles que lhes permitiram fazer publicidade de seus produtos, os laboratórios estão enganando o público, fazendo acreditar que os problemas se resolvem com comprimidos. Mas não é assim. Os fármacos são necessários e muito úteis em transtornos mentais severos e persistentes, que provocam uma grande incapacidade. Mas não ajudam nos problemas cotidianos, pelo contrário: o excesso de medicação causa mais danos que benefícios. Não existe tratamento mágico contra o mal-estar.
P. O que propõe para frear essa tendência?
R. Controlar melhor a indústria e educar de novo os médicos e a sociedade, que aceita de forma muito acrítica as facilidades oferecidas para se medicar, o que está provocando além do mais a aparição de um perigosíssimo mercado clandestino de fármacos psiquiátricos. Em meu país, 30% dos estudantes universitários e 10% dos do ensino médio compram fármacos no mercado ilegal. Há um tipo de narcótico que cria muita dependência e pode dar lugar a casos de overdose e morte. Atualmente, já há mais mortes por abuso de medicamentos do que por consumo de drogas.
P. Em 2009, um estudo realizado na Holanda concluiu que 34% das crianças entre 5 e 15 anos eram tratadas por hiperatividade e déficit de atenção. É crível que uma em cada três crianças seja hiperativa?
R. Claro que não. A incidência real está em torno de 2% a 3% da população infantil e, entretanto, 11% das crianças nos EUA estão diagnosticadas como tal e, no caso dos adolescentes homens, 20%, sendo que metade é tratada com fármacos. Outro dado surpreendente: entre as crianças em tratamento, mais de 10.000 têm menos de três anos! Isso é algo selvagem, desumano. Os melhores especialistas, aqueles que honestamente ajudaram a definir a patologia, estão horrorizados. Perdeu-se o controle.
P. E há tanta síndrome de Asperger como indicam as estatísticas sobre tratamentos psiquiátricos?
R. Esse foi um dos dois novos transtornos que incorporamos no DSM IV, e em pouco tempo o diagnóstico de autismo se triplicou. O mesmo ocorreu com a hiperatividade. Calculamos que, com os novos critérios, os diagnósticos aumentariam em 15%, mas houve uma mudança brusca a partir de 1997, quando os laboratórios lançaram no mercado fármacos novos e muito caros, e além disso puderam fazer publicidade. O diagnóstico se multiplicou por 40.
P. A influência dos laboratórios é evidente, mas um psiquiatra dificilmente prescreverá psicoestimulantes a uma criança sem pais angustiados que corram para o seu consultório, porque a professora disse que a criança não progride adequadamente, e eles temem que ela perca oportunidades de competir na vida. Até que ponto esses fatores culturais influenciam?
Os melhores especialistas, aqueles que honestamente ajudaram a definir a patologia, estão horrorizados. Perdeu-se o controle.
R. Sobre isto tenho três coisas a dizer. Primeiro, não há evidência em longo prazo de que a medicação contribua para melhorar os resultados escolares. Em curto prazo, pode acalmar a criança, inclusive ajudá-la a se concentrar melhor em suas tarefas. Mas em longo prazo esses benefícios não foram demonstrados. Segundo: estamos fazendo um experimento em grande escala com essas crianças, porque não sabemos que efeitos adversos esses fármacos podem ter com o passar do tempo. Assim como não nos ocorre receitar testosterona a uma criança para que renda mais no futebol, tampouco faz sentido tentar melhorar o rendimento escolar com fármacos. Terceiro: temos de aceitar que há diferenças entre as crianças e que nem todas cabem em um molde de normalidade que tornamos cada vez mais estreito. É muito importante que os pais protejam seus filhos, mas do excesso de medicação.
P. Na medicalização da vida, não influi também a cultura hedonista que busca o bem-estar a qualquer preço?
R. Os seres humanos são criaturas muito maleáveis. Sobrevivemos há milhões de anos graças a essa capacidade de confrontar a adversidade e nos sobrepor a ela. Agora mesmo, no Iraque ou na Síria, a vida pode ser um inferno. E entretanto as pessoas lutam para sobreviver. Se vivermos imersos em uma cultura que lança mão dos comprimidos diante de qualquer problema, vai se reduzir a nossa capacidade de confrontar o estresse e também a segurança em nós mesmos. Se esse comportamento se generalizar, a sociedade inteira se debilitará frente à adversidade. Além disso, quando tratamos um processo banal como se fosse uma enfermidade, diminuímos a dignidade de quem verdadeiramente a sofre.
P. E ser rotulado como alguém que sofre um transtorno mental não tem consequências também?
R. Muitas, e de fato a cada semana recebo emails de pais cujos filhos foram diagnosticados com um transtorno mental e estão desesperados por causa do preconceito que esse rótulo acarreta. É muito fácil fazer um diagnóstico errôneo, mas muito difícil reverter os danos que isso causa. Tanto no social como pelos efeitos adversos que o tratamento pode ter. Felizmente, está crescendo uma corrente crítica em relação a essas práticas. O próximo passo é conscientizar as pessoas de que remédio demais faz mal para a saúde.
P. Não vai ser fácil…
R. Certo, mas a mudança cultural é possível. Temos um exemplo magnífico: há 25 anos, nos EUA, 65% da população fumava. Agora, são menos de 20%. É um dos maiores avanços em saúde da história recente, e foi conseguido por uma mudança cultural. As fábricas de cigarro gastavam enormes somas de dinheiro para desinformar. O mesmo que ocorre agora com certos medicamentos psiquiátricos. Custou muito deslanchar as evidências científicas sobre o tabaco, mas, quando se conseguiu, a mudança foi muito rápida.
P. Nos últimos anos as autoridades sanitárias tomaram medidas para reduzir a pressão dos laboratórios sobre os médicos. Mas agora se deram conta de que podem influenciar o médico gerando demandas nos pacientes.
R. Há estudos que demonstram que, quando um paciente pede um medicamento, há 20 vezes mais possibilidades de ele ser prescrito do que se a decisão coubesse apenas ao médico. Na Austrália, alguns laboratórios exigiam pessoas de muito boa aparência para o cargo de visitador médico, porque haviam comprovado que gente bonita entrava com mais facilidade nos consultórios. A esse ponto chegamos. Agora temos de trabalhar para obter uma mudança de atitude nas pessoas.
P. Em que sentido?
R. Que em vez de ir ao médico em busca da pílula mágica para algo tenhamos uma atitude mais precavida. Que o normal seja que o paciente interrogue o médico cada vez que este receita algo. Perguntar por que prescreve, que benefícios traz, que efeitos adversos causará, se há outras alternativas. Se o paciente mostrar uma atitude resistente, é mais provável que os fármacos receitados a ele sejam justificados.
P. E também será preciso mudar hábitos.
R. Sim, e deixe-me lhe dizer um problema que observei. É preciso mudar os hábitos de sono! Vocês sofrem com uma grave falta de sono, e isso provoca ansiedade e irritabilidade. Jantar às 22h e ir dormir à meia-noite ou à 1h fazia sentido quando vocês faziam a sesta. O cérebro elimina toxinas à noite. Quem dorme pouco tem problemas, tanto físicos como psíquicos.

El País

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

SEMEAR ESTRELAS

Turbulência, imprevisibilidade, desordem - Caos. Essas e outras palavras são capazes de gerar grande angústia em nós, seres humanos cheios do desejo de controlar, saber, entender.

A ciência hoje acredita que as estrelas nascem no centro de massas, nuvens de gás caóticas que acabam se colapsando devido a sua intensa gravidade. Que loucura é essa? Exatamente isso, uma loucura. Eu definiria a loucura da mesma forma. Ficaria assim: “a loucura nasce de um mergulho profundo e irresistível (devido ao seu poder de atração) dentro de um universo totalmente caótico, mas desse mergulho podemos gerar muita luz - semear uma estrela, nossa estrela!

Vejo muita semelhança no nascimento das estrelas e no processo de individuação. Penso sempre nessa semelhança assustadoramente bela do universo e de nós filhos do infinito.

Estamos, sempre mergulhados no imenso caos. Terror, medo, dúvidas. Muitas vezes, ou quase sempre nada faz sentido e vivemos essa desordem em nossas mentes, ações e sentimentos.

Parece que tudo está se chocando, sendo destruído e prestes a explodir. Muitos relatam que sentem que vão explodir mesmo. Dizem isso com um semblante aterrorizado. Nada dá certo, apenas o caos pode ser sentido nestes momentos que precedem o nascimento. Mas é exatamente neste momento, nesta região do nosso universo particular, o berço da nossa estrela pessoal.

Vejam, nascemos no caos e voltamos para ele. Não podemos mais nos enganar e ficar repetindo mentalmente para nos convencer que temos o controle da situação. Nunca temos o controle. A ciência já está usando isso a favor do desenvolvimento, eles descobriram que sempre que tentavam colocar ordem o desempenho diminuía. Deixemos o mistério, a magia fazer sua parte.

Não mais tenhamos medo do caos. Ele nunca deixará de existir por ser fundamental na geração de vida. Ele é o movimento do Universo. Nele estão contidas todas as possibilidades e devemos aprender a extrair deste caos a semente de nossa luz.

Luz é consciência, é saber e agir de acordo com o que sentimos em nossos corações. Nada de roubar luz alheia, nada de invejar o outro. Podemos, nós mesmos, parir uma linda e brilhante estrela pessoal.

Se vocês acham que eu estou falando muito metaforicamente deixe-me ser mais clara. Todos reconhecem aquelas pessoas que brilham, se destacam da maioria. Têm um grande magnetismo, força de atração (gravidade) e servem de inspiração. Essas pessoas descobriram sua estrela. Não deve ter sido fácil até chegarem neste ponto. Sabemos disso! Todas as histórias de autossuperação são precedidas de grande sofrimento, perdas, de completa escuridão - o berço das estrelas.

Esse mergulho é totalmente necessário e criativo. Não entrem em pânico, tentem enxergar as novas possibilidades prontas para nascer: vocês são a maior delas. Na verdade, acredito que seja uma grande, dessas bem lindas e iluminadas possibilidades que estão só esperando o empurrãozinho do caos para realizar sua tarefa de vida.

Uma parte muito bonita nessa história de caos é a sincronia. Você sabia que em algum momento o caos deixa de existir através do fenômeno de sincronia (*) - há uma ordem intrínseca no caos. É! Mas vamos deixar essa parte para uma próxima conversa.

Portanto, que o caos venha e traga consigo seu maior presente - A Luz da nossa consciência - Somos filhos das Estrelas!


KARINA PAITACH

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(*) Para quem quiser saber mais sobre a teoria do caos e os fenômenos de sincronia acessem o site Inovação Tecnológica (http://www.inovacaotecnologica.com.br/) e boa pesquisa.