quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

DOR!


Texto escrito por: Fonte: http://br.mulher.yahoo.com/como-prevenir-dor-com-medicina-chinesa-172000000.html

A dor é hoje em dia o principal motivo que leva os pacientes a procurarem tratamento através da acupuntura e da massagem chinesa Tui Na, as duas ferramentas clínicas mais conhecidas no ocidente da medicina chinesa. As causas, os mecanismos e os tratamentos possíveis para os mais variados tipos de dor são estudados desde os primórdios desta medicina. Um ditado ancestral sintetiza todo o conceito da dor: "Onde há fluxo, não há dor. Onde não há fluxo, há dor." Entendemos então que qualquer tipo de obstrução da nossa circulação, seja de fluídos, de sangue ou de energia, chamada de ( 氣 - pronuncia-se Tchi ), leva a um quadro de dor, mas com características diferentes.
As origens dessas obstruções podem ser divididas em três tipos: as internas, as climáticas e os acidentes e traumas em geral. As origens internas dos quadros de dor normalmente envolvem alguma diminuição da capacidade funcional do nosso corpo, ou seja, uma diminuição da eficácia da nossa circulação em geral. São dores que tendem a ter início gradual, mas que podem progredir até níveis insuportáveis. Também tem como características surgirem em mais de um lugar do nosso corpo e serem simultâneas a sintomas como cansaço, retenção de líquido, membros frios e menor resistência em geral.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Dependência e transtorno de personalidade têm semelhanças



Sensação de vazio é comum a quem sofre do transtorno ou de dependências.
Ao articular as definições de personalidade borderline e de adicções, o psicanalista Marcelo Soares da Cruz observou  que ambos os transtornos possuem um funcionamento muito próximo, pois  baseiam-se em relações de adicções e carregam fortes sentidos dolorosos.

Relações adictivas são relações de dependência, seja de drogas, objetos, jogos, comportamentos ou mesmo até de pessoas. O Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) também pode ser chamado de Transtorno de Personalidade Limítrofe (TPL) ou Transtorno Estado-Limite de Personalidade, entre outras denominações. Para Cruz, trata-se de uma maneira de estruturar uma personalidade. Quem sofre do transtorno possui relações turbulentas e oscilantes, apresenta desespero, vazio extremo e se sente constantemente ameaçado pela perda do outro. No entanto, esse outro dificilmente é de fato visto por suas características e pode ser facilmente substituído, quase que “coisificado”.
Cruz pesquisou o tema em sua dissertação de mestrado apresentada ao Instituto de Psicologia (IP) da USP. O objetivo era verificar se realmente existia uma relação entre a adicção e a organização de personalidade borderline.
A dissertação de mestrado teve orientação da professora Leila Salomão de La Plata Cury Tardivo, do IP. O estudo foi baseado em análises teóricas e se preocupou mais em buscar a essência das manifestações do sofrimento humano, apesar de serem algumas experiências com casos clínicos que tenham despertado os interesses iniciais do psicanalista acerca do assunto abordado.
O mestrado Reflexões sobre a relação entre a personalidade borderline e as adicções também relatou que a sociedade pós-moderna é carente em amparo e apresenta um esvaziamento que é dito ser preenchido por objetos e por propagandas, que vendem, acima de qualquer produto, uma identidade e promessa de completude. Essa contextualização da sociedade serviu para evidenciar que alguns casos de adicções e de personalidade borderline podem ser exaltados pela forma como se dá o mundo atual.
Borderline e adicçõesPessoas com Transtorno de Personalidade Borderline têm dificuldade em guardar o outro dentro de si sem que esse outro esteja concretamente presente, por isso tamanha insegurança. A automutilação é comum entre os pacientes, tanto para eles se sentirem mais vivos como para perturbar e mobilizar o próximo e assim obter evidências que eles existem para aquela pessoa.
O TPB não é caracterizado como psicótico pois não há rompimento total com a realidade. É uma condição difícil de se detectar já que ela pode ser confundida com depressão, bipolaridade ou psicopatia, devido alguns rompantes de ódio e raiva.
As adicções são socialmente mais difundidas e tratam-se de dependências por substâncias, sensações, objetos, entre outros. No caso dos adictos, também há um vazio que se busca preencher. Se o “borderline” tende a encarar o outro como objeto, o adicto faz o contrário. A droga, o jogo, o sexo, o objeto de dependência, enfim, passa a ser pessoa e não mais apenas o que realmente é. Há uma necessidade vital de um objeto que é tratada de forma compulsiva.
“A busca pela droga e o borderline apresentam desespero com pessoas e vão em busca da recuperação de algo fundamental que foi perdido”, esclarece o psicanalista. Apesar de os adictos optarem por objetos para compensar “o que foi perdido”, geralmente, como no transtorno borderline, a ausência é por conta de alguém. Ou seja, é provável que a falta de alguma figura familiar ou mesmo social seja um dos principais agravantes da adicção e da personalidade borderline.
Mudança de olharO autor da pesquisa conta que já teve contato com condições muito radicais daqueles que sofrem de adicções e da personalidade borderline. Ele afirma que, na maioria das vezes, os casos são incompreendidos e a dissertação de mestrado poderá ajudar a desconstruir a imagem daqueles que olham essas situações de fora e pensam que essas pessoas estão apenas se destruindo. “Apesar de se tratar de uma dissertação mais conceitual, ela serve justamente para situações concretas.”

terça-feira, 25 de setembro de 2012

PSICÓLOGOS GANHARAM RECURSO AO STJ


PSICÓLOGOS GANHARAM RECURSO AO STJ
No dia 30 de julho de 2012 o Presidente do Tribunal Regional Federal da 1ª Região admitiu o processamento do recurso especial e do recurso extraordinário interpostos pelo Conselho Federal de Psicologia contra a decisão do próprio TRF-1 que proíbe o psicólogo de exercer a acupuntura como prática complementar do exercício profissional.

Significa dizer que o assunto será discutido definitivamente pelas instâncias superiores, ou seja, Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal. O juríco do CFP está envidando esforços para que os recursos sejam julgados o quanto antes.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)


Por que o TDAH sustenta polêmicas?


A especialista Marilene Proença fala sobre o diagnóstico do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade e a questão da medicalização

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) sustenta polêmicas das mais diversas. Primeiro: como se pode afirmar que indivíduos, essencialmente crianças, com comportamento agitado ou displicente são acometidas por um transtorno, sem considerar uma análise mais profunda que leve em conta a faixa etária, o contexto social e mesmo o grau de desenvolvimento condizente à infância?

O NET Educação convidou a especialista Marilene Proença, professora da área de Psicologia Escolar, coordenadora do Laboratório Interinstitucional de Estudos e Pesquisas em Psicologia Escolar (LIEPPE) e do programa de Pós Graduação em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano da Universidade de São Paulo (USP) para esclarecer as questões que giram em torno do Transtorno.

A especialista aponta que há muita imprecisão nos diagnósticos, uma vez que os critérios de avaliação são subjetivos e, por conta disso, condena a medicação prescrita em grande parte dos casos: “a medicalização cria uma falsa facilitação de conduta nessas crianças”. Confira a entrevista na íntegra.

NET EDUCAÇÃO – O que é o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)?

Marilene Proença – De início, temos aqui uma polêmica. Toda e qualquer tentativa de definição do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade é feita baseada em sintomas, ou seja, em comportamentos manifestados em determinados contextos. O suposto transtorno é descrito na sua sintomatologia pela Associação de Psiquiatria Norte Americana por meio do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV) que se restringe ao trabalho de listar determinados sintomas escolhidos como aqueles que o constituirão. Isso gera muita discussão. Por exemplo, quando se está diante de uma doença de cunho genético, caso da síndrome de Down, se tem certeza que há uma disfunção do cromossomo 21 e, por isso, são atestados determinados sintomas no paciente.

Agora, quando se trata do Déficit de Atenção e Hiperatividade, a verdade é que não há consenso sobre os sintomas que poderiam justificar o transtorno. Há mais de um século se pergunta o que comporia essa modalidade de transtorno, tendo a sua definição modificada tanto no nome do suposto transtorno quanto nas características de comportamento que levariam a diagnosticá-lo.

Hoje, o que os psicólogos e psiquiatras têm utilizado largamente para realizar o diagnóstico é o SNAP-IV, um questionário baseado nos sintomas apresentados pelo DSM-IV, para sinalizar a existência do TDA e da Hiperatividade. São 18 questões, nove direcionadas para a sondagem do déficit de atenção e outras nove para a hiperatividade, avaliadas de acordo com os seguintes critérios: “nem um pouco, só um pouco, bastante ou demais”.

Se a criança ou adolescente for enquadrado em seis questões como “bastante ou demais”, em duas situações de vida, já pode ser diagnosticado como portador do transtorno ou da hiperatividade. No entanto, as questões são respondidas por adultos e permitem alto grau de subjetividade nas respostas. Vou exemplificar com uma delas. Um dos itens do questionário diz o seguinte: a criança ou adolescente “Perde coisas necessárias para atividades (ex: brinquedos, deveres da escola, lápis ou livros)”?. O que é pouco, bastante ou demais, nesse caso? Além disso, qual de nós não passa por situações de esquecimento diariamente? Ou seja, as perguntas são genéricas, não consideram o contexto em que os comportamentos estão sendo avaliados, tampouco a idade da criança avaliada.

Em Psicologia, por exemplo, um questionário como esse não pode ser considerado como um instrumento de avaliação psicológica, pois para se avaliar um determinado comportamento será necessário utilizar vários instrumentos diagnósticos, considerando-se fatores essenciais como faixa etária, contexto social, diferentes versões sobre o caso, delimitando melhor o que se pretende avaliar.

NE - O Transtorno do Déficit de Atenção é sempre somado à hiperatividade ou podem acontecer de maneira isolada?

MP – Embora haja uma tendência de se acoplar as duas modalidades, segundo seus defensores, o transtorno pode ocorrer sem a hiperatividade e vice-versa.

NE – O TDAH não é doença?

MP – Partindo das evidências que são consideradas como critérios para a existência do TDAH, não podemos afirmar que seja uma doença, pois tais evidências são baseadas em comportamentos e estes se modificam à medida que o contexto, as relações, as situações e oportunidades se apresentam na vida de crianças, adolescentes e adultos.

NE – Como avaliar a questão da medicalização para o TDAH?

MP - Quando a criança, adolescente ou adulto é diagnosticado com o transtorno é prescrita uma droga “tarja-preta”, com graves efeitos colaterais, denominada metilfenidato, substância mais conhecida pelos nomes comerciais de Ritalina, Concerta e Vyvanse.

O metilfenidato é do grupo dos psicoestimulantes, ou seja, atua diretamente sob o sistema nervoso central. O medicamento libera maior quantidade de dopamina no organismo, uma das moléculas essenciais de sinalização do cérebro, associada à motivação e aos sentimentos de prazer. Quando prescrito para pessoas com o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), a substância tem efeito calmante, fruto da toxicidade da medicação.

A ação do metilfenidato no organismo pode durar de quatro a doze horas, pois já se encontram versões do medicamento com efeito prolongado no organismo. O medicamento traz na própria bula a não recomendação para crianças antes de sete ou oito anos de idade. No entanto, a realidade da prescrição médica é outra. A medicação é prescrita para crianças muito pequenas, podendo trazer efeitos graves ao desenvolvimento.

Então, a falsa ideia de que a criança melhorou o comportamento por conta da substância é pelo simples fato dela estar com excesso de dopamina nas sinapses, o que dá uma sensação de saciedade do prazer. Esta droga pode apresentar graves efeitos colaterais tais como: perda de apetite, sonolência, taquicardia, dores no corpo e cabeça. De fato, a criança não apresenta nenhuma “melhora” no comportamento e sim sintomas do efeito do medicamento no organismo.

NE – Por que a tendência a medicar os casos de TDAH?

MP - Não podemos mascarar a forte pressão exercida pelos laboratórios farmacêuticos. Há um livro muito importante sobre o tema lançado há alguns anos nos Estados Unidos denunciando o marketing desenvolvido pela indústria farmacêutica assinado pela pesquisadora Marcia Angell. Os diagnósticos com medicação ganham força a partir do momento que a indústria farmacêutica endossa o medicamento como a saída para o problema, financiando, inclusive, pesquisas.

Temos a ideia de que as crianças têm que aprender a se comportar e esquecemos que para que isso ocorra é necessário ensiná-las. O comportamento é uma dimensão do desenvolvimento infantil que é aprendida, como tantas outras. O medicamento realmente vai trazer uma série de pontos positivos se a ideia for controlar os impulsos da criança. Mas a boa conduta ou comportamento aparente esconde os fortes malefícios da substância ingerida. A facilitação que se pretende a partir da medicação é uma falsa facilitação e leva à distorção do processo de aprendizagem de uma criança, do qual precisamos (nós, adultos) sermos mediadores.

Precisamos apoiar as crianças na convivência diária, orientando-as frente aos desafios, ensinando-as a como crescer, desenvolver-se e defender-se. A partir do momento que um medicamento interfere no comportamento, não está contribuindo para a aprendizagem. O que precisamos nos questionar é: que educação estamos oferecendo às novas gerações quando usamos a contenção química? Como aprenderão a lidar com os desafios da vida diária? Estamos alarmados com essa onda medicalizante. Grande parte do conhecimento da Psicologia centra-se nas teorias de aprendizagem e de desenvolvimento demonstrando que somos o que aprendemos.

E o que aprendemos ao tomar um medicamento para pretensamente focarmos a atenção e reduzirmos as ações motoras de uma criança?

NE - Os indivíduos vêm, cada vez mais, recebendo estímulos das mais diversas naturezas. Estamos conectados em grande parte do tempo a mais de uma fonte de informação. O próprio ambiente não pode então estimular o déficit de atenção e a hiperatividade? Como avalia esse cenário?

MP - Não podemos dizer que por termos muitos estímulos o tempo todos estamos sendo estimulados ao transtorno, mas sim a constituirmos uma atenção difusa. Hoje, cada vez menos se tem a atenção direcionada a uma única coisa. A comunicação estabeleceu novas maneiras de nos relacionarmos. Somos estimulados de diversas maneiras e isso não é uma patologia social. Por isso, não vejo isso com olhar para doença ou transtorno. São novas maneiras de relacionamento que estão postas para nós diariamente.

NE – Pais e professores têm de estar atentos a essa questão?

MP - Sim. O envolvimento e a participação dos pais e dos educadores é de extrema importância. Antes de tudo, precisamos romper com o círculo de culpabilização entre pais e educadores. A questão é: que criança queremos formar? Para que sociedade? Aquela em que somos todos iguais com comportamentos padronizados? Ou crianças criativas, desejosas do saber, instigadas pelo novo e pela diversidade? Quando uniformizamos o comportamento humano deixamos de construir nossa humanidade.

O adulto precisa assumir o seu papel de educador, de mediador entre a criança e a cultura, apresentando à criança o que há de melhor no seu contexto social. As crianças aprendem aquilo que apresentamos a elas como oportunidades. À medida que alçam autonomia podem trilhar novos caminhos e buscar outras fontes de informação. Não podemos deixar que os problemas humanos sejam apaziguados com medicamentos simplesmente. Temos que enfrentá-los e superá-los com os recursos que desenvolvemos nas áreas do saber e na prática social.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

“O LIVRO VERMELHO” Por Carl Gustav Jung


A Editora Vozes lançou o livro no Brasil traduzido para o português por Edgar Orth. A edição tem 4kg e custa mais de R$ 500. É possível ver um trecho em pdf aqui.
“Os anos durante os quais me detive nessas imagens interiores constituíram a época mais importante da minha vida. Neles todas as coisas essenciais se decidiram. Foi então que tudo teve início, e os detalhes posteriores foram apenas complementos e elucidações. Toda minha atividade ulterior consistiu em elaborar o que jorrava do inconsciente naqueles anos e que inicialmente me inundara: era a matéria-prima para a obra de uma vida inteira.” ~ C.G. Jung (1975)
O trecho abaixo segue o molde de alguns contidos no livro, com estilo ao mesmo tempo narrativo e auto-reflexivo, contendo descrições de imagens do interior e imediatas traduções e conclusões sobre seus efeitos na vida do indivíduo. O trecho abaixo não faz parte da edição brasileira citada acima, foi traduzido livremente da edição inglesa.
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O LIVRO VERMELHO” (trecho)
Por Carl Gustav Jung
“O diabo é a soma da escuridão da natureza humana. Aquele que vive na luz se esforça para ser a imagem de Deus; aquele que vive na escuridão se esforça para ser a imagem do diabo. Pelo fato de eu querer viver na luz, o sol desapareceu pra mim quando eu toquei as profundezas. Era escuro e aquilo parecia uma serpente.
Uni-me com aquilo e não o subjuguei. Tomei pra mim a parte da humilhação e subjugação, e assim incorporei a natureza da serpente. Se eu não tivesse me tornado com a serpente, o diabo, a quintessência de tudo que é ‘serpenticice’, teria mantido esse poder sobre mim. Isso teria dado ao diabo meu pulso e ele teria me forçado a fazer um pacto com ele, da mesma maneira como ele astuciosamente enganou Fausto. Mas me antecipei a ele me unido com a serpente, assim como um homem se une a uma mulher.
Então tirei do diabo a possibilidade da influência, que só pode passar através da própria ‘serpenticidade’ de nós mesmos, e que nós frequentemente relegamos ao diabo ao invés do próprio Mefistófeles ser Satã, tomado com minha ‘serpenticidade’. O Satã é a própria quintessência do mal, nu e por isso sem sedução, sem nem mesmo esperteza, mas pura negação sem força de convencimento. Assim eu resisti à sua influência destrutiva, peguei-o e segurei-o firme. Seus descendentes me serviram e eu os sacrifiquei com a espada.
E assim construí uma estrutura firme. Através dela ganhei estabilidade e longevidade e pude suportar as flutuações do pessoal. E então o imortal em mim está salvo. Atraindo a escuridão do meu outro mundo para dentro do dia, esvaziei meu outro mundo. Assim as exigências dos mortos desapareceram, assim que foram sendo satisfeitas.
Não sou mais ameaçado pelos mortos, desde que aceitei suas exigências e assim aceitei a serpente. Mas por causa disso também botei algo dos mortos no meu dia. Mas foi necessário, uma vez que a morte é a coisa mais duradoura de todas, aquilo que não pode nunca ser cancelado. A morte me dá durabilidade e solidez. Todo o tempo que quis satisfazer somente minhas próprias vontades, eu era pessoal e por isso vivia no senso do mundo. Mas quando reconheci as exigências dos mortos em mim e as satisfiz, entreguei meus esforços pessoais anteriores e o mundo teve que me aceitar como um homem morto. Um enorme frio vem para aqueles que no excesso de seus esforços pessoais reconheceram as exigências dos mortos e buscam satisfazê-las.
Enquanto ele se sente como se um veneno misterioso tivesse paralizado a qualidade de vida de suas relações pessoais, as vozes dos mortos permanecem silenciosas no seu outro mundo; a ameaça, o medo, e a ansiedade cessam. Tudo o que anteriormente aparecia faminto nele não mais vivia nele no seu dia. Sua vida é maravilhosa e rica, já que ele é ele mesmo. Mas aquele que sempre só quer a graça dos outros é feio, porque ele mutila a si mesmo. Um assassino é aquele que quer forçar os outros à bem-aventurança, uma vez que ele mata seu próprio crescimento. Um tolo é aquele que extermina seu amor por causa do amor. Esse é pessoal para o outro. Seu outro mundo é cinza e impessoal. Ele se força sobre os outros, e por isso é amaldiçoado a forçar ele mesmo sobre ele mesmo em um nada frio. Aquele que reconheceu as exigências dos mortos baniram sua feiúra do outro mundo. Ele não se impõe forçosamente sobre ninguém, e vive sozinho na beleza e fala com os mortos. Mas chega o dia quando as demandas dos mortos também são satisfeitas.
Se então perseveramos na solidão, a beleza se apaga para dentro do outro mundo e a terra perdida aparece nesse lado. Uma fase negra aparece depois da branca, e Paraíso e Inferno estão pra sempre lá.”
~ Carl Jung, Livro Vermelho “Red Book” (pgs 322-323)

terça-feira, 22 de maio de 2012

Os movimentos do Coração


Escrito por Karina Paitach

A Terra vive do amor que o Céu tem por ela. Assim começa o preâmbulo do Livro Os Movimentos do Coração – Psicologia dos Chineses sobre o qual gostaria de falar um pouco.
Na cultura chinesa o Céu e a Terra se encontram.  Este “ponto de encontro” é o coração do homem. É o vaso sagrado que por natureza é vasto como o Céu e também a terra sagrada dentro de cada um. Por este motivo o coração é o centro das atenções no que diz respeito a nossa psicologia.
Sendo cada um deles, o Céu e a Terra, operadores da vida, vamos falar sobre a Virtude do Céu, o Sopro da Terra e os Espíritos que são os mensageiros da Virtude do Céu. Teremos também que revelar os três Tesouros se quisermos entender os seres humanos e por fim chegarmos aos Cinco Espíritos; que são a finalidade desta coletânea de textos.
Podemos dizer que o Céu é o que se manifesta como nossa própria natureza, que é a autenticidade do nosso agir. E o coração abriga o Céu e é sua morada, pois ele é capaz de receber o dom de reconhecer a justeza e a autenticidade das condutas.
O que recebemos do Céu nos marca ativa e constantemente; daí se originam todas as condutas do indivíduo. Já os Espíritos são da mesma qualidade da Virtude do Céu só que um pouco mais específicos. Assim são retratados os Espíritos: “A Virtude, assim como os Espíritos, é luminosidade irradiante. É a Luz que ilumina tudo que vem a este mundo...”. Os Espíritos advêm em nós, repletos de luz, manifestam a virtude e a trazem para nós”.
A Terra em nós é aquilo que recebe e carrega a virtude, dando-lhe formas. A Terra é uma grande provedora de formas definidas onde ficam abrigados os dons do Céu. Mas antes de falar em ‘forma’ devemos falar sobre a forma sem forma, ou seja, aquela que aceita se tornar todas as formas: o Sopro e só ele é que pode ser verdadeiramente oposto, contrastado, complementar e compenetrado para e pela imensa Virtude do Céu.
E é a partir deste nível que nasce o YIN/YANG, pois agora existem dez mil seres. De um Sopro único e universal nasce a multiplicidade.  Quando falamos em sopros falamos no conhecido Qi e é por meio dos sopros ou Qi que tudo se faz, mantem e anima a Vida.
Agora que já entendemos sobre o Céu e a Terra, o que nasce deste cruzamento, ou melhor, o que nasce deste abraço são os seres viventes, portanto: “não há vida senão através dos sopros yin/yang, submetidos à ação própria da Terra, individualizados pelo Céu”.
Temos a tríade perfeita – CÉU – TERRA – VIDA, podemos falar um pouco sobre nós Humanos. No entanto o que nos difere, seres viventes, dos outros milhares de seres. O que temos de único? Aqui nasce o que é conhecido por Os três Tesouros.
Agora peço sua atenção: para que os viventes surjam deve haver uma revelação! Eis aqui o que é conhecido como Essências ou Jing o primeiro tesouro. O Jing é nossa energia constitucional e física o que nos torna viventes é o enraizamento de tudo o que existe – o elo biológico. Herdamos dos nossos pais e é o que nos liga ao mundo animal. Sendo assim os instintos de sobrevivência, a agressividade e a necessidade de nos ligarmos aos outros, estão ligados ao Jing.
Mas sabemos que nós não estamos ligados apenas ao reino animal, mas sim com todo Universo e esta ligação se dá através do Qi ou os sopros. Como mencionado anteriormente é ele que dá origem a todas as formas, portanto somos todos UM através do Qi, o segundo tesouro.
O terceiro e último tesouro é o que nos torna HUMANOS, o que nos diferencia e nos torna únicos no universo. Shen ou Espírito é o que não compartilhamos com os animais. Foi o Céu que nos concedeu. Os três tesouros refletem a tríade perfeita, sendo o Jing nosso elo biológico com os outros animais, portanto está ligado a Terra, o Qi que compartilhamos com os dez mil seres e o Shen é a dádiva única concedida pelo Céu.
Temos mais revelações para fazer, a revelação dos Espíritos e esta se dá do encontro entre duas essências. O casal primordial, já falamos sobre eles, O CÉU/TERRA, os outros casais apenas reproduzem esta imagem, como por exemplo: YIN/YANG – MACHO/FÊMEA, etc.
Os Espíritos são o Céu em nós, nos conduzindo e trazendo sua mensagem. Shen é enraizado, fixado através das essências, está muito além delas mas opera e se manifesta através delas. Como tudo tem uma raiz, um lugar de onde emana uma radiancia luminosa assim também tem, como sua primeira morada, o Coração – Morada do SHEN. Aqui entendemos porque do brilho dos olhos, a luz espiritual que é conhecida como emanação luminosa simbolizando saúde e vivacidade.
É a partir do Coração, os Espíritos irradiam até os mais remotos recônditos do ser; eles estão em toda parte, nos Zang (órgãos), no mental, em todo o lugar onde a animação vital se manifesta. Para sua manutenção precisamos proporcionar um coração sereno e disponível. Disponível quer dizer um Coração vazio no seu mais alto grau de significado.
Embora o Espírito - Shen seja indivisível e inominável, mistério último, podemos particularizá-lo de acordo com suas moradas. Sabemos também que ele habita todos os lugares, mas vamos falar de cinco, que estão relacionados a cinco órgãos Yin ou Zang e que são a finalidade destes textos.
Primeiro devemos abordar é Espírito na sua manifestação mais Yang o chamado HUN que habita o Fígado e está em ressonância com o elemento Madeira. O aspecto mais Yin doShen conhecido como PO que está relacionado com o órgão Pulmão e está em ressonância com o movimento Metal, mas este deixaremos para o nosso próximo encontro.
Shen se expressa através dos órgãos (Zang – Yin) e vísceras (Fu – Yang) sob cinco formas, também chamadas de “Alma dos Zang-Fu” que remonta a ideia de morada dos Espíritos no nosso corpo.

HUN - ALMAS ESPIRITUAIS
Para nós ocidentais Hun é o que chamamos de “alma” ou “espírito” da pessoa. Podemos chamar de almas espirituais, espírito que raciocina - mas chamaremos de HUN.
Hun como um movimento Yang tende a subir, elevar-se e ele precisa que algo o entesoure - o seu enraizamento acontece no Fígado impedindo seu impulso em direção ao Céu.
Pensando em ressonância, lembrando que a sabedoria dos orientais se espelhou na natureza para desenvolver toda sua filosofia e medicina; quando desenvolveram o conceito de movimento Madeira estavam falando sobre a força do nascer das plantas, que se movem em direção ao Céu e isso acontece na Primavera estação que representa o desabrochar de tudo. O fígado yin com seu parceiro yang a Vesícula Biliar formam o par de órgãos (YIN/YANG) do movimento Madeira.
Este sistema Fígado/Vesícula Biliar, fisiologicamente falando (na visão da MTC) é responsável por armazenar e regularizar a saída de sangue de acordo com os diferentes estados fisiológicos. É ele quem “comanda o mar do sangue”. Nutre os tendões e músculos já que eles são alimentados pelo sangue. Todas as funções são geradoras dos nossos movimentos o que deixa claro sua ressonância com a Madeira.
Outra manifestação do Hun é através da emoção ressonante – Raiva no sentido de impulso para a realização. É uma força dinâmica que desencadeia os impulsos necessários para empreender uma ação.  Como controla a imaginação, desempenha um papel essencial em todo ato de criação, permitindo a elaboração de uma estratégia.
Hun descontrolado gera a ira, a fúria que nos torna cegos de raiva. Os planos futuros e a criatividade perdem sua fonte de estímulo e o nosso sono se torna agitado. O Coração será muito afetado neste desequilíbrio, pois não é ele um músculo? E também não é ele a primeira morada do SHEN?
Cada sistema no homem tem sua singularidade e atividades que lhes são próprias no metabolismo energético, mas todos são de igual importância na manutenção do equilíbrio. As atividades humanas sejam elas mentais, emocionais, fisiológicas, espirituais ou sociais não são nada além das expressões múltiplas de um mesmo princípio geral, que é a transformação e o fluxo da energia e a manutenção disso depende de uma moradia tranquila para os espíritos, o coração sereno.

(*) Texto Introdutório - No próximo texto falaremos sobre PO – Alma Vegetativa e o Movimento Metal.

Referencia Bibliográfica:
Elisabeth Rochat de La Vallee e Claude Larre. Os Movimentos do Coração: Psicologia dos Chineses.
Belo Horizonte: s.e., 2004. Tradução de Nicole Mir.
Wang. Princípios de Medicina Interna do Imperador Amarelo. Editora Icone, 2001.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Conselho Nacional de Saúde recomendou...


Brasília, 19 de abril de 2012


CNS faz recomendação sobre exercício da acupuntura

        Nesta semana, o Conselho Nacional de Saúde recomendou aos gestores e prestadores de serviços de saúde que observem o caráter multiprofissional em todos os níveis de assistência na implementação de políticas ou programas de saúde referentes às práticas integrativas e complementares, como a acupuntura. “Na prática, não apenas médicos podem exercer a acupuntura. A contratação de forma multiprofissional é preconizada pela Politica Nacional de Praticas Integrativas e Complementares no Sistema Único de Saúde”, lembra o conselheiro nacional de saúde Wilen Heil e Silva, do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO).

        Para zelar pelo direito do usuário da saúde de acesso aos serviços envolvendo práticas integrativas e complementares, o CNS também recomendou aos conselhos estaduais e municipais de saúde que tomem as providências cabíveis para fazer valer a politica nacional.

        A utilização da acupuntura no Brasil, nos últimos 26 anos, enquanto recurso terapêutico, além de seguir a legislação sanitária, é regulamentada e fiscalizada pelos conselhos profissionais (autarquias federais). Esses conselhos reconhecem a prática e a respectiva especialização profissional, nas quais são estabelecidos, por meio de resoluções específicas, critérios para garantir à população um tratamento ético e responsável. Com isso, esta prática está respaldada com segurança e eficácia. Ao recomendar que essas informações sejam amplamente divulgadas, também com o apoio das secretarias de saúde estaduais e municipais, o CNS pretende informar corretamente a população sobre o caráter multiprofissional da acupuntura e assim ampliar o acesso da população a esta prática.

Acesse aqui a legislação e as recomendações anteriores sobre as práticas integrativas







 
Equipe de Comunicação do CNS
Fone: (61) 3315-3576/3179
Fax: (61) 3315-2414/3927
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Site: www.conselho.saude.gov.br

terça-feira, 3 de abril de 2012

A corrida do Ouro - Acupuntura no Brasil


Por recurso do Conselho Federal de Medicina o Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em Brasília, decidiu pela proibição da prática da acupuntura por quaisquer profissionais da saúde que não tenham formação em faculdades de medicina. A decisão da última terça-feira está valendo a partir da publicação oficial, ainda que as demais categorias recorram. Acupuntura no Brasil agora é ato médico. Exclusivo.
A política médica que ganha hoje no país a exclusividade para a prática da acupuntura já desqualificou a técnica nos mesmos tribunais. No final dos anos 1960 a categoria posicionou-se contra a prática da acupuntura, considerando-a charlatanismo.
Acupunturistas foram presos acusados de curandeirismo, estavam totalmente desprotegidos pela legislação.
No início dos anos 1970 o Conselho Federal de Medicina rejeitou oficialmente a acupuntura e a reflexologia como atividades médicas. O Conselho de Medicina de São Paulo censurou publicamente o médico Evaldo Martins Leite por praticar acupuntura, Naquela época, ainda que em outros países a acupuntura estivesse sendo reconhecida e procurada como uma nova ferramenta de trabalho por vários profissionais, entre eles os médicos, no Brasil era uma vergonha ser médico e defender a acupuntura.
Os resultados práticos dos efeitos da terapia oriental eram inegáveis e vários países foram envolvidos em estudos para testar sua eficácia sob os paradigmas da pesquisa ocidental. Em 1977 o Brasil chegou a reconhecer a acupuntura como ocupação profissional. A Organização Mundial de Saúde, na mesma época, além de reconhecer, recomendava a prática. Os usuários surgiam, os profissionais acupuntores, vindos das mais variadas áreas de saúde, se multiplicavam.
Médicos brasileiros, contrariando o CFM, começaram a fazer a formação com o alemão naturalizado brasileiro Friedrich Jahann Spaeth na antiga sede da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1979. Spaeth, que era fisioterapeuta, massoterapeuta e acupunturista formado na Alemanha, fundou no Brasil, em 1958, a primeira instituição voltada para a prática da acupuntura, a Sociedade Brasileira de Acupuntura e Medicina Oriental.
Antes dele, a acupuntura já existia nas comunidades chinesas desde 1812 e nas japonesas desde 1895. Os imigrantes orientais usavam-na entre eles, mas nunca se organizaram para difundi-la.
Em 1961 desembarcou no Brasil Wu Tou Kwang, médico cirurgião vascular, que também passou a formar acupuntores, sempre defendendo a atividade como democrática, multidisciplinar, barata e eficaz. Na mesma década vieram os coreanos trazendo uma acupuntura diferente da japonesa e da chinesa. Enquanto isso, nos Estados Unidos, o psicólogo Reuben B. Arnber, aluno de acupuntura de Wu Wei Ping, iniciava uma jornada política pela regulamentação da acupuntura.
Mesmo sem apoio do Conselho Federal de Medicina, mais médicos passaram a frequentar cursos de acupuntura. A terapia oriental funcionava, eles podiam atestar, fervilhavam as pesquisas com revelações surpreendentes sobre o uso e a eficácia da técnica das agulhas. Politicamente era um problema a acupuntura ser lecionada por não-médicos, a autoridade principal do assunto não ter formação médica. Em 1980, pelo fato de não ser médico, Frederich Spaeth foi destituído da presidência da Associação Brasileira de Acupuntura pelos seus ex-alunos médicos. No raciocínio político, os médicos precisavam assumir a técnica, agora que ela era respeitada pela ciência. Banir os papas da acupuntura no país significava desvincular da ideia inicial, produzida pelos próprios conselhos de medicina, de que era charlatanismo. Perversão pouca é bobagem. E o judiciário ali, de testemunha na corrida do ouro.
Na bela Recife de 1981, no I Congresso Brasileiro de Acupuntura, a manifestação de repúdio aos profissionais tradicionais de acupuntura por parte de médicos corporativistas tomou forma oficial e em 1984, em outro congresso da categoria, em Brasília, os médicos separaram-se oficialmente dos demais acupuntores para fundar a SMBA- Sociedade Médica Brasileira de Acupuntura.
Quatro anos depois o médico-deputado paulista Antonio Salim Curiati deu entrada ao projeto PL852/88 a favor da prática multidisciplinar da acupuntura. No mesmo ano a CIPLAN, comissão interministerial de Planejamento, após se reunir exclusivamente com representantes da SMBA, baixou resolução normatizando o emprego da acupuntura nos serviços públicos médicos assistenciais, restringindo a prática apenas para médicos.
Em 1991, uma resolução em assembléia da OMS recomendou a intensificação de cooperação entre as medicinas tradicionais e a científica moderna, com medidas reguladoras dos métodos de acupuntura. O PLC Nº383/1991 para regulamentação da acupuntura foi aprovado, inclusive por todos os conselhos de medicina.
Não durou muito o aparente sossego. Em 1993 a Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária publicou um relatório com recomendação de que a acupuntura fosse monopolizada pela classe médica. O seminário, que resultou na recomendação, foi composto por 12 médicos da SMBA, 2 médicos a favor dos acupunturistas de outras formações e um profissional não-médico.
Os médicos Wu Tou Kwang e Evaldo Martins Leite recorreram ao senador Valmir Campelo convencendo-o a mudar de opinião e democratizar a regulamentação para todos os profissionais da área saúde. Um abaixo-assinado contra o monopólio médico da acupuntura, com 45.000 nomes, sendo 300 de assinaturas de médicos, foi enviado ao Senado.
Em 1997, uma nova manobra com emendas em plenário dos senadores médicos Lucídio Portela e José Alves tentou restaurar o monopólio da acupuntura para os médicos. Depois de muitos imbróglios, foi derrotada e a acupuntura se fortaleceu como profissão da área de saúde, respeitando suas origens não-médicas, podendo ser praticada por assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, biólogos, profissionais da educação física, biomédicos, enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, médicos, médicos veterinários, nutricionistas, psicólogos e odontólogos.
Entre os anos 1980 e o final dos anos 1990, segundo dados publicados no Journal of the American Medicine Association, as chamadas “terapias alternativas” cresceram de 7% para 47% e a previsão era de que continuassem em elevação. No judiciário brasileiro somavam-se processos contra o exercício ilegal da medicina por acupunturistas não-médicos. O acesso ao livre exercício da profissão por outras categorias da área da saúde enfrentava atos arbitrários sucessivos do Conselho Federal de Medicina.
As organizações pró-acupuntura multidisciplinar foram crescendo e se fortalecendo política e praticamente, já com base em evidências científicas, o que é raro nas terapias alternativas. Ainda em 1998, cientistas na Universidade da Califórnia comprovaram por meio de ressonância magnética que os pontos da acupuntura estavam mesmo ligados a importantes órgãos internos e funções do corpo. Era ciência, uma ciência caindo nas mãos de seus próprios criadores e eles faziam com ela o que bem quisessem, até formavam profissionais não-médicos! Foi um momento desesperador para os médicos corporativistas.
Em 1999, ano de muito crescimento em pesquisas, fundações de instituições e popularidade da acupuntura, cresceram os debates. Nesse ano estimou-se que 5.000 médicos e 20.000 profissionais de outras áreas da saúde faziam uso da acupuntura.
Em 2000, nova broma. Um grupo de médicos brasileiros enviou relatório ao Senado afirmando que na China, berço da acupuntura, ela era lecionada exclusivamente em escolas médicas. Não deu certo: num lance digno de profissionais éticos, o diplomata Affonso Celso de Ouro Preto, embaixador do Brasil na China, enviou carta ao Senado afirmando que, na China, “a acupuntura é uma atividade socialmente independente da medicina alopática ocidental”, sendo regulada pela Secretaria Nacional de Administração da Medicina Chinesa, sem qualquer ligação com a medicina alopata clássica.
Em 2000, após o arquivamento da tentativa de monopólio da acupuntura pela classe médica no Senado, a Sociedade Médica Brasileira de Acupuntura lançou a campanha com a pergunta – “Meu acupunturista é médico, e o seu?” — que induzia o eventual usuário a duvidar da capacidade dos acupunturistas vindos de outras áreas da medicina.
E assim, nesse ritmo, continuou nos últimos 12 anos. A briga contra o exercício da acupuntura por outros profissionais da saúde é a mesma velha briga da medicina por mercado, por vaidade, por poder, por medo de perder o poder, como fica claro nessa breve e resumida história sobre a batalha particular entre médicos corporativistas e todos os outros profissionais de saúde que foram surgindo ao logo da história por consequência natural, e podemos afirmar, por ciência, derrubando crenças médicas.
A guerra de hoje é a mesma que atravessa séculos contra o exercício pleno e legítimo do trabalho das parteiras, das enfermeiras. A mesma que levanta piadas contra o trabalho dos psicólogos, dos terapeutas, a mesma luta covarde contra os direitos dos profissionais da fisioterapia, dos optometristas. É a mesma, é o de sempre, é mais do mesmo. Não surpreenderia tanto se esses profissionais da medicina não fossem tão bem formados, tão bem treinados em incontáveis horas de estudo e treinamento técnico. Fica difícil compreender como profissionais de alto gabarito podem usar de estratégias e manobras políticas tão baixas, idênticas às que utilizavam na Idade Média.
O espírito competitivo, predador e excludente dos representantes oficiais dos médicos no Brasil ainda levará a categoria inteira para o fundo do poço, o mesmo velho poço que tem servido para sepultar todos aqueles que ao longo da história da medicina foram acusados de charlatões.