· Definição
o Transtorno Psiquiátrico cujo principal sintoma é o DELÍRIO.
§ Tipo de pensamento no qual o indivíduo tem uma crença inabalável em idéias falsas, irracionais ou sem lógica.
§ Pode ser do tipo erotomaníaco, grandioso, ciumento, persecutório, somático, misto ou indefinido.
· História
o Termo anterior: Transtorno Paranóide
§ Aplicado incorretamente, pois sugere que os delírios sejam sempre de conteúdo persecutório, o que não é o caso.
o Atualmente, “paranóia” significa extrema suspeição, não baseada em uma avaliação realista. Com freqüencia é usada por leigos significando qualquer tipo de desconfiança.
o Johann Christian, 1818: introduziu o conceito básico de paranóia na psiquiatria ao descrever transtornos do intelecto sob o termo “Verrucktheit”.
o Karl Kahlbaum, 1853: “insanidade parcial que afeta o intelecto, mas não outras áreas de funcionamento mental”.
o Emil Kraepelin, séc XIX: “sistema delirante persistente na ausência de alucinações e deterioração da personalidade”.
o Sigmund Freud, séc XIX-XX: “delírios paranóides desenvolvem-se a partir de impulsos homossexuais reprimidos”.
· Epidemiologia
o A avaliação exata dificultada pela raridade da doença.
o O TD é sub-relatado pois os pacientes raramente buscam auxílio psiquiátrico.
o Nos EUA é estimada em 0,03%
o 1-2% das baixas nos sistemas de internação em saúde mental
o Risco de morbidade durante a vida pode estar entre 0,05 e 0,1%.
o Incidência anual: 1-3 novos casos /100.000 habitantes
o Idade média de início: 40 anos
o Faixa etária: de 25 a 90 anos
· Etiologia
o Causa desconhecida
o Estudos familiares relatam uma prevalência aumentada nos parentes de probandos com TD
o Fatores biológicos
§ Fatores singulares mas ainda não compreendidos no cérebro e personalidade de um paciente tendem a ser relevantes para a fisiopatologia.
§ Condições médicas não psiquiátricas que podem causar delírios: as associadas ao sistema límbico e aos gânglios basais, em pacientes com funcionamento cortical normal
§ Ainda pode surgiu como uma resposta normal a experiências anormais no ambiente, SNPeriférico ou SNCentral -> experiências alucinatórias não comprovadas.
o Fatores psicodinâmicos
§ Pacientes socialmente isolados, que atingiram níveis de realização abaixo do esperado.
§ Situações que favorecem o desenvolvimento de TD:
· Expectativa aumentada de receber tratamento sádico
· Situações que aumentam a desconfiança e suspeição
· Isolamento social
· Situações que aumentam a inveja e o ciúme
· Situações que diminuem a auto-estima
· Situações que fazem com que uma pessoa veja seus próprios defeitos
· Situações que aumentam o potencial para a ruminação sobre prováveis significados e motivações
§ Quando a frustração resultante de qualquer combinação destas condições excede os limites que o indivíduo é capaz de tolerar, ele torna-se retraído e ansioso; percebe que algo está errado e procura uma explicação para o problema -> surge o delírio.
§ Pseudocomunidade Paranóide: comunidade de conspiradores
§ Entidade delirante que une medos e desejos projetados para justificar a agressão do paciente e para proporcionar um objetivo tangível.
§ Falta de confiança nos relacionamentos
§ Ambiente familiar hostil
§ Pacientes com TD utilizam mecanismos de:
· Formação Reativa: defesa contra agressão, sentimentos de afeição e necessidade de dependência. Esta última se transforma em forte independência.
· Negação: para evitar a consciência de uma realidade dolorosa.
· Projeção: para protejer a pessoa de impulsos que são inaceitáveis.
· Características clínicas – estado mental
o Descrição geral: paciente bem-vestido, asseado, sem evidências de ampla desintegração da personalidade ou das atividades diárias.
o No exame do estado mental, apresenta-se como completamente normal, exceto pela presença de delirante acentuadamente normal.
o Humor, sentimentos e afeto: consistentes com o delírio.
o Perturbações da percepção: os pacientes com TD não possuem alucinações proeminentes ou constantes.
o Delírios táteis ou olfativos podem estar presentes, mas sempre são consistentes com o delírio.
o Pensamento: um transtorno do conteúdo do pensamento é o sintoma-chave do TD.
o Os delírios são sistematizados, possíveis
· Características clínicas – sensório e cognição
o Orientação: sem anormalidades, a menos que o delírio envolva essa característica.
o Memória: sem anormalidades.
o Controle dos impulsos: atenção para avaliar a ideação ou planos de agir de acordo com o material delirante expresso pelo paciente.
o Julgamento e insight: os pacientes com TD não tem qualquer insight sobre sua condição. O julgamento é melhor determinado avaliando-se o comportamento passado, presente e planejado do paciente.
o Confiabilidade: são confiáveis em suas informações, exceto àquelas relacionadas ao delírio.
· Curso da doença
o Início dos sintomas : em geral se situam na fase intermediária ou tardia da idade adulta, mas pode ocorrer antes
o No caso do Tipo Persecutório, o transtorno pode ser crônico, embora freqüentemente ocorram períodos de preocupação maior ou menor com as crenças delirantes
o Há períodos de remissão completa, mas que podem ser seguidos por recaídas
· Classificação – CID 10
o F22 Transtornos delirantes persistentes
§ Esta categoria reúne transtornos diversos caracterizados única ou essencialmente pela presença de idéias delirantes persistentes e que não podem ser classificados entre os transtornos orgânicos, esquizofrênicos ou afetivos. Quando a duração de um transtorno delirante é inferior a poucos meses, este último deve ser classificado, ao menos temporariamente, em F23 (Transtornos psicóticos agudos e transitórios)
o F22.0 Transtorno delirante
o F22.8 Outros transtornos delirantes persistentes
o F22.9 Transtorno delirante persistente não especificado
o F24 Transtorno delirante induzido
§ Transtorno delirante partilhado por duas ou mais pessoas ligadas muito estreitamente entre si no plano emocional. Apenas uma dessas pessoas apresenta um transtorno psicótico autêntico; as idéias delirantes são induzidas na(s) outra(s) e são habitualmente abandonadas em caso de separação das pessoas.
· Classificação – DSM IV
o F22.0 - 297.1 - Transtorno Delirante
§ A característica essencial do TD é a presença de um ou mais delírios não-bizarros que persistem por pelo menos 1 mês (Critério A).
§ Um diagnóstico de TD não é dado se o indivíduo já apresentou um quadro sintomático que satisfazia o Critério A para Esquizofrenia (Critério B). Alucinações auditivas ou visuais, se presentes, não são proeminentes.
§ Alucinações táteis ou olfativas podem estar presentes (e ser proeminentes), se relacionadas ao tema do delírio (por ex. a percepção de emitir odor fétido por um orifício corporal).
§ Exceto pelo impacto direto dos delírios, o funcionamento psicossocial não está acentuadamente prejudicado, e o comportamento não é obviamente estranho ou bizarro (Critério C).
o Se episódios de humor ocorrem concomitantemente com os delírios, sua duração total é relativamente breve, comparada com a duração total dos períodos delirantes (Critério D).
o Os delírios não se devem aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (ex., cocaína) ou uma condição médica geral (ex. doença de Alzheimer, LES) (Critério E).
o Embora seja especialmente importante determinar se os delírios são bizarros para a distinção entre TD e Esquizofrenia, este caráter bizarro pode ser difícil de julgar, especialmente entre diferentes culturas. Os delírios são considerados bizarros quando claramente implausíveis, incompreensíveis e não extraídos de experiências comuns da vida.
o Em comparação, os delírios não-bizarros envolvem situações que poderiam concebivelmente ocorrer (por ex., ser seguido, envenenado, infectado, amado à distância ou traído pelo cônjuge ou parceiro romântico).
o O funcionamento psicossocial é variável. Alguns indivíduos podem parecer relativamente intactos em seus papéis interpessoais e ocupacionais. Em outros, o prejuízo pode ser substancial e incluir baixo ou nenhum funcionamento ocupacional e isolamento social.
o Aparente normalidade de seu comportamento e aparência quando suas idéias delirantes não estão sendo questionadas ou postas em prática. Em geral, o funcionamentos social e conjugal estão mais propensos a sofrer prejuízos do que os funcionamentos intelectual e ocupacional.
· Subtipos
o Tipo Erotomaníaco: Este subtipo aplica-se quando o tema central do delírio diz respeito a ser amado por outra pessoa. O delírio freqüentemente envolve um amor romântico e união espiritual idealizada, ao invés de atração sexual.
§ As pessoas afetadas vivem isoladas, retraídas, em geral solteiras e que tiveram contatos sexuais limitados.
o Tipo Grandioso (Megalomania): Este subtipo aplica-se quando o tema central do delírio é a convicção de ter algum grande talento (irreconhecido) ou conhecimento de ser o autor de alguma descoberta importante. Com menor freqüência, o indivíduo pode ter o delírio de possuir um relacionamento especial com uma pessoa importante (por ex., de servir de consultor para o Presidente) ou de ser uma pessoa importante (sendo que neste caso a pessoa real pode ser considerada uma impostora).
o Tipo Ciumento: Este subtipo aplica-se quando o tema central do delírio diz respeito a estar sendo traído pelo cônjuge ou parceiro romântico. Esta crença é injustificada e está baseada em inferências incorretas apoiadas por pequenas "evidências" (por ex., roupas em desalinho ou manchas nos lençóis), que são colecionadas e usadas para justificar o delírio.
o Tipo Persecutório: Este subtipo aplica-se quando o tema central do delírio envolve a crença de estar sendo vítima de conspiração, traição, espionagem, perseguição, envenenamento ou intoxicação com drogas, estar sendo alvo de comentários maliciosos, de assédio ou obstruído em sua busca de objetivos de longo prazo. Pequenos deslizes podem ser exagerados e se tornar o foco de um sistema delirante. É o tipo mais comum.
o Tipo Somático: Este subtipo aplica-se quando o tema central do delírio envolve funções ou sensações corporais. Os delírios somáticos podem ocorrer de diversas formas. Os mais comuns envolvem a convicção de estar emitindo odor fétido através da pele, boca, reto ou vagina, de estar infestado com insetos sobre ou sob a pele, de abrigar um parasito interno; de que certas partes do corpo são (contrariamente a todas as evidências) malformadas ou feias, ou de que certas partes do corpo (por ex., o intestino grosso) não estão funcionando.
o Tipo Misto: Este subtipo aplica-se quando não há predomínio de qualquer tema delirante.
o Tipo Inespecificado: Este subtipo aplica-se quando a crença dominante no delírio não pode ser claramente determinada ou não está descrita entre os tipos específicos (por ex., delírios de referência sem um componente persecutório ou grandioso proeminente).
· Patologias associadas
o Maior ocorrência de Episódios Depressivos Maiores
o Depressão é relativamente leve e começa após o início das crenças delirantes proeminentes.
o Pode estar associado com Transtorno Obsessivo-Compulsivo, Transtorno Dismórfico Corporal e Transtornos da Personalidade Paranóide, Esquizóide ou Esquiva.
· Diagnóstico
o Importante diferenciar TD de Esquizofrenia
Critérios diagnósticos para TD – DSM-IV
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A. Delírios não-bizarros com duração mínima de 1 mês.
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B. O critério A para Esquizofrenia jamais foi satisfeito.
Nota: alucinações táteis e olfativas podem estar presentes no Transtorno Delirante, se relacionadas ao tema dos delírios. |
C. Exceto pelo impacto do(s) delírio(s) ou de suas ramificações, o funcionamento não está acentuadamente prejudicado, e o comportamento não é visivelmente esquisito ou bizarro.
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D. Se episódios de humor ocorreram durante os delírios, sua duração total foi breve relativamente à duração dos períodos delirantes.
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E. A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por ex., uma droga de abuso, um medicamento) ou de uma condição médica geral.
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Especificar tipo (os tipos seguintes são atribuídos com base no tema predominante do(s) delírio(s):
Tipo Erotomaníaco Tipo Grandioso Tipo Ciumento Tipo Persecutório Tipo Somático
Tipo Misto
Tipo Inespecificado.
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· Comparativo – diagnósticos diferenciais
TRANSTORNO DELIRANTE
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Transtornos do humor
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Esquizofrenia
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Humor consciente com o conteúdo dos delírios
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Existe toda uma gama de sintomas afetivos adjacentes
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Alucinações proeminentes
Embotamento afetivo
Transtornos do pensamento
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Natureza não-bizarra dos delírios
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Delírios não-bizarros durante episódios de humor
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Natureza bizarra dos delírios
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Início mais tardio
menor prejuízo social e ocupacional
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Muito raro em ambos os sexos
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Maior predomínio entre as mulheres
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Incidência relativamente grande (1%)
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· Diagnósticos diferenciais
o Transtorno Psicótico Induzido por Substância: relação cronológica entre o uso da substância e o início ou a remissão das crenças delirantes.
o Transtorno Psicótico Compartilhado: delírios surgem no contexto de um estreito relacionamento com outra pessoa, sua forma é idêntica aos delírios da outra pessoa, e diminuem ou desaparecem quando o indivíduo com TPC é separado do indivíduo com o Transtorno Psicótico primário.
o Transtorno Psicótico Breve: os sintomas delirantes duram menos de 1 mês.
· Tratamento
o Pode ser feito Ambulatorialmente.
o Hospitalização se faz necessária quando:
§ Deve-se realizar avaliação neurológica e médica completa
§ Deve-se avaliar a capacidade de controlar impulsos violentos
§ O comportamento do paciente afetar significativamente a sua capacidade de funcionar em sua família ou no contexto ocupacional
o O médico deve primeiramente persuadir o paciente a aceitar a hospitalização (o que ocorre com mais frequencia), porém se fracassar pode indicar o confinamento legal.
o Farmacoterapia: drogas antipsicóticas
§ Pacientes severamente agitados, via IM
§ Doses baixas para o início do tratamento, com aumento gradual (havendo resposta-> baixa dose de manutenção)
§ 2mg Haloperidol
§ Pimozida
§ Falta de adesão ao tratamento
§ Suspensão da droga se não houver benefício.
§ Antidepressivos, lítio ou anticonvulsivantes podem ser indicados se não houver resposta ao tratamento anterior
o Psicoterapia
§ Terapia individual é mais efetiva que a terapia de grupo
§ Confiança
§ Estimular a motivação para receber auxílio salientando sua disposição para ajudar os pacientes com sua irritabilidade e ansiedade, sem sugerir que os delírios serão tratados
§ Evitar gratificação excessiva
§ Não fazer comentários críticos sobre os delírios ou idéias do paciente, e sim dizer-lhe que sua preocupação com o delírio tanto o angustia quanto interfere na sua vida produtiva.
§ Respeitar a necessidade da defesa da proteção
§ Demonstrar solidariedade para com a experiência interna do paciente
§ Reconhecer o sofrimento
§ Atingir a vulnerabilidade do paciente: trabalho terapêutico mais produtivo
§ Terapia familiar
O marco de um tratamento bem sucedido pode ser um ajuste social satisfatório, ao invés de um desaparecimento dos delírios de paciente.____________________________
FONTE: http://ligapsq.blogspot.com.br/2011/02/transtorno-delirante.html