INTRODUÇÃO
O povo chinês sempre foi conhecido por sua obsessão em organizar as coisas – desvendá-las, defini-las, nomeá-las. Quer se trate de plantas, de pontos de acupuntura ou ideogramas, a preocupação dos chineses segue sempre sendo a mesma: como dispor os dados da realidade de uma maneira ao mesmo tempo agrupada, racional e eficaz.
A arte da observância, a arte do esperar a auto-revelação de cada acontecimento e de cada ser, sua transformação e seus ciclos, seus altos e baixos, seu yin e seu yang em constante alternância sempre foi o mistério por trás de qualquer organização de origem chinesa. Foi desta mesma forma que o livro das mutações foi criado, organizado e seu nome revelado.
O nome, para o Chinês não pode ser dado, ele é revelado, pois o nome é o enigma que expressa o ser. E até mesmo um nome carrega uma polaridade yin e outra yang, que juntas, formam um ideograma. O ideograma I, como todos os outros ideogramas, carrega uma mensagem (yin) e uma imagem (yang).
A organização do povo chinês era tamanha que até mesmo nas bibliotecas, havia uma ordem em que os livros deveriam ser lidos, e o I Ching era o primeiro deles. Essa informação nos faz deduzir que o I Ching é o livro introdutório e preparatório para qualquer linha do saber chinês. Seu conhecimento é o fundamento teórico e místico para todos os demais desdobramentos compilados como livros.
Assim, o nome I Ching revela toda a importância do conteúdo do livro, todo o contexto em que surgiu e tudo o que propõe para quem tiver a oportunidade de acessar sua sabedoria.
Há muitos estudos a respeito da origem do ideograma I. De acordo com alguns autores, a origem do ideograma é atribuída a figura de um camaleão, por ser um animal que representa mutação, movimento e adaptabilidade, por se transformar para se defender no ambiente que o cerca. Outros autores atribuem à origem do ideograma o desenho de um sol em cima e uma lua embaixo, representando o constante movimento do nascer do sol e o aparecimento da lua – a constante alternância entre yin e yang.
A palavra Ching ou King significa clássico, texto, tratado, e é o nome dado a todos os livros mestres. Desta forma, identificam-se os princípios do I Ching, conhecido como “Livro das Mutações”, e atingimos a máxima do Tratado, de que “a única coisa imutável é que tudo muda o tempo todo”.
O DESENVOLVIMENTO DO I
No princípio, o I só possuía estruturas, os 64 hexagramas de Fu-Hsi, por volta de 2.800 a.C. Durante 1.700 anos o I permaneceu assim, somente um mapa de estruturas e sua interpretação era transmitida oralmente.
Por volta de 1143 a.C., o I recebeu os comentários sobre os hexagramas escritos pelo rei Wen, conhecidos como O Julgamento, e os comentários sobre as linhas de cada hexagrama escritos pelo duque Chou. E assim permaneceu por mais quase 700 anos.
Por fim, em torno de 500 a.C., o I Ching recebeu As Dez Asas de Confúcio. E, desde então, temos no I Ching o mesmo livro, com os mesmos comentários e estruturas.
Podemos afirmar que seu início se deu 4.800 anos atrás, que passou por transformações por 2.300 anos e que permanece o mesmo há 2.500 anos.
O I Ching, por si só, não encerra nenhum significado, é a vida a cada momento que lhe dá significado. A própria história do I Ching revela seu objetivo: representar a continuidade da passagem do tempo através de uma organização de reflexão em 64 momentos, 64 possibilidades de hexagramas, momentos em vias de passar, vagarosamente, quase à velocidade da Grande Reciclagem – 2.300 anos de desenvolvimento e quase 5.000 anos de utilidade.
O elo que existe entre o hexagrama 64 “Antes da Conclusão” e o hexagrama 1 “O Criativo” reafirma a idéia de que não existe fim, mas um impulso a um novo ciclo.
A CRIAÇÃO
Ao refletir sobre a criação do mundo, pode-se pensar em um ponto no nada. É a forma mínima de representar o surgimento de algo, algum fenômeno que passa a existir.
Tendo em vista um dos princípios chineses: nada está estático, tudo muda o tempo todo; ao impulsionar o movimento a este ponto, surge a reta.
Quando há este movimento do ponto, a criação acontece, portanto, temos o surgimento do Yang.